São Paulo, quinta-feira, 10 de agosto de 1995
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Fax reforça ligação de Samper com traficantes

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O presidente da Colômbia, Ernesto Samper, sofreu ontem pelo segundo dia consecutivo denúncias de envolvimento com os traficantes do cartel de Cali.
O jornal "El Tiempo", de Bogotá, publicou em sua edição de ontem a reprodução de um fax em que José Nelson Urrego Cárdenas, condenado três vezes por tráfico, oferece apoio eleitoral a Samper.
Anteontem, a revista "Semana" publicara gravação de conversa telefônica em que Elizabeth Sarria, mulher do traficante Jesús Amado Sarria, convida Samper a um encontro para receber dinheiro de empresários vindos do Brasil.
A gravação foi entregue à revista por um oficial da Marinha. A Procuradoria Geral considerou que a gravação não é uma prova judicial válida, pois foi obtida de maneira ilegal. A Marinha disse anteontem não ter feito escuta clandestina.
Ambas as denúncias se referem ao período da campanha eleitoral, no ano passado. Segundo o ex-tesoureiro da campanha de Samper, Santiago Medina, a campanha do Partido Liberal (de Samper) à Presidência foi parcialmente financiada pelo narcotráfico.
O fax divulgado ontem foi assinado por Urrego Cárdenas e enviado a "Eliza" -provavelmente Elizabeth Sarria.
"Faço agora a entrega de US$ 100 mil para apoiar a campanha do dr. Samper. Por favor, cumprimente-o de minha parte. Estudo novo apoio", diz o fax, que contém vários erros de espanhol e traz o número da cédula de identidade de Urrego Cárdenas.
O presidente Ernesto Samper nega ter recebido dinheiro do cartel de Cali (cidade localizada a oeste de Bogotá) na sua campanha.
"Saltam à vista infâmias e calúnias", declarou o presidente em uma nota. Ele disse ser falsa a gravação em que ele aparece conversando com Elizabeth Sarria.
Para Samper, os grupos de traficantes querem "criar um clima de intimidação moral, como resposta à ação decidida do governo para acabar com as máfias na Colômbia". Por conta das novas provas, a Procuradoria Geral pode até pedir a destituição de Samper.
A crise política fez com que o comando da economia perdesse o controle sobre a moeda local.
Ontem, o dólar estava cotado a 920 pesos. Há nove dias, quando a crise começou, a moeda norte-americana valia 895 pesos.
O governo projetava, em janeiro, uma queda de 13,6% durante o ano. Esse índice deve ser alcançado já nas próximas semanas.
A imprensa do país já começa a especular sobre a eventual destituição de Samper. A jornalista María Isabel Rueda defende, na "Semana", que o vice-presidente, Humberto de la Calle, deveria ser destituído junto com Samper, por também ter sido beneficiado pelas contribuições dos traficantes.
A revista "Cromos" publica uma lista com eventuais candidatos à sucessão de Ernesto Samper, que tomou posse em agosto de 94.
A Procuradoria Geral destituiu funcionários do órgão, suspeitos de terem passado a órgãos de imprensa pistas contra o governo.
O procurador-geral, Alfonso Valdivieso, disse que vários documentos foram furtados e entregues a implicados em crimes.
A agência de notícias "Ansa" recebeu em Bogotá uma chamada anônima com ameaças de "represálias militares" contra o governo.
Segundo o responsável pela sucursal da agência, o autor da chamada tinha forte sotaque do Departamento de Antioquia (onde fica Medellín, sede de outro importante cartel) e se identificou como membro de organização armada.
Ele qualificou como "mártir" o líder do extinto cartel de Medellín, Pablo Escobar Gaviria, assassinado em 1993.
O governo aumentou para US$ 1 milhão a recompensa pela captura de Helmer Herrera Buitrago, o último dos sete maiores chefes do cartel de Cali ainda em liberdade. Até ontem, o governo oferecia US$ 500 milhões por sua prisão.
Guerrilheiros do Exército de Liberação Nacional dinamitaram na noite de anteontem o principal oleoduto do país e interromperam o transporte de 180 mil barris diários de petróleo cru.
O atentado ocorreu em Saravena, fronteira com a Venezuela. Foi o 29º ataque do grupo neste ano. O restabelecimento do oleoduto estava previsto para a noite de ontem.
O Ministério da Defesa da Colômbia disse que guerrilheiros colombianos invadiram território equatoriano, matando um soldado e ferindo outro, ambos do Exército do Equador.

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