São Paulo, quinta-feira, 10 de agosto de 1995
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Contradições

A percepção de contradições está na raiz do raciocínio humano e, portanto, de todo o seu desenvolvimento ulterior. Ser contraditório é apenas e essencialmente humano, e permite que as pessoas evoluam e aprimorem suas idéias. Existe, porém, um limite -no mais das vezes tênue, mas ainda assim um limite- entre a humana contradição e o ``façam o que eu digo, mas não façam o que eu faço".
O discurso privatista do senador Antônio Carlos Magalhães parece enquadrar-se melhor na segunda categoria. A notícia de que, em suas três gestões à frente do Executivo baiano, o então governador criou 11 (ou 7, como ele alega, não faz muita diferença) empresas estatais coloca em suspeição o atual discurso de ACM. O senador admite até a privatização de algumas das estatais por ele criadas, mas defende que outras, como a Empresa Brasileira de Alimentos e a Empresa de Produtos Farmacêuticos da Bahia, permaneçam com o Estado.
A sensação de estranhamento é inafastável. Se a minoração dos grandes problemas nacionais passa pelas privatizações -e não há a menor dúvida de que de fato passa-, por que então criar estatais e defender sua existência, em casos que não se enquadram nas obrigações precípuas do Estado?
Como já se afirmou, é da percepção das contradições que surge o raciocínio, as explicações. ACM deve de fato estar de acordo com a tese da desestatização, mas entre a longa, dura e custosa luta para resolver as mazelas do Brasil e a rápida, fácil e também custosa -mas para o contribuinte- trajetória de manutenção de poder pessoal pela criação e distribuição de cargos estatais, há, aparentemente, espaço para muita tergiversação.

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