São Paulo, quinta-feira, 10 de agosto de 1995
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De coronéis e incentivos

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Depois da guerra fiscal, especialmente em torno da fábrica de caminhões da Volks em Resende (RJ), vem o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) alvejar São Paulo, acompanhado por outros parlamentares. Um desavisado qualquer poderia supor que a moda iugoslava está pegando no Brasil, na forma de um confronto regional sem o componente étnico.
Pode ser. Mas, em primeiro lugar, convém repetir o que Nelson de Sá já avisou na sua coluna de ontem: essa briga de ACM com o ministro José Serra pode ser muito mais briga de pai de candidato a candidato com outro candidato a candidato do que uma questão realmente de poder regional.
Em todo o caso, vamos fazer de conta que ACM está de fato preocupado com o poder de São Paulo e os prejuízos supostamente decorrentes para seu Estado.
Bobagem. Aliás, bobagem do mesmo tamanho da que alguns setores paulistas costumam esgrimir, ou seja, o argumento de que os paulistas pagam impostos para sustentar os nordestinos.
Esquemas de incentivos regionais já foram criados faz muito tempo e deram resultados pífios, para dizer o menos. Veja-se os casos da Sudam e da Sudene, as superintendências de desenvolvimento da Amazônia e do Nordeste, respectivamente.
Criadas para promover a industrialização das duas regiões, 40 anos depois o que se vê é que as indústrias continuam onde estavam, ou seja, no Centro/Sul, com uma ou outra exceção.
Quem garante que, criados novos incentivos ou ampliados os atuais, os resultados serão diferentes? Em vários países do mundo os exemplos são desestimulantes. O Sul italiano, pobre na comparação com o Norte, tem tratamento preferencial, mas não consegue sair do buraco, para ficar em um caso.
É provável que o coronelismo político, claramente mais forte no Norte/Nordeste, tenha a maior parcela de culpa pelos problemas da região. Até porque se nutre, em grande medida, do subdesenvolvimento. Não que São Paulo seja exemplar politicamente. Mas é tão pujante que sobrevive até aos seus coronéis de paletó e gravata. Mal, mas sobrevive.

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