São Paulo, quinta-feira, 10 de agosto de 1995
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História e vida

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - A diretora do Museu da República, Anelise Pacheco, está preparando uma exposição no antigo Palácio do Catete sobre os ex-presidentes, a ser inaugurada no próximo 15 de novembro. Pediu-me que colaborasse no projeto. Arranjei um tempo e tenho dado palpites sobre o assunto. A maior dificuldade, até agora, foi estabelecer o critério de importância de cada presidente.
São quatro salas do mesmo tamanho que devem abrigar os painéis. E logo surgiu a necessidade de graduar cada um deles. Não se poderia dar a Delfim Moreira e Venceslau Braz o mesmo espaço destinado a Vargas e JK. Sem querer impor minha opinião, sugeri que o período republicano, referenciado pelos presidentes que se sucederam, fosse dividido pelas quatro salas da seguinte maneira:
A primeira seria ocupada pela Velha República, de Deodoro a Washington Luís. Entre titulares e vices que ocuparam a Presidência, são 17 cidadãos barbados ou bigodudos. O destaque vai para Rodrigues Alves, que aproveitou a austeridade de Campos Salles e fez grandes obras, sobretudo no Rio de Janeiro.
A segunda sala, contrariando a cronologia, é dedicada a Vargas e JK. Como a Mona Lisa no Louvre e a Sistina no Vaticano, são os pontos altos da história republicana. A terceira sala é uma mixórdia ideológica e administrativa: Dutra, Café Filho, Jânio, Jango e Castelo. Há uma reparação tardia a Castelo. Ele deveria figurar ao lado dos militares, mas o critério e a topografia do Catete o beneficiaram. Afinal, o regime de trevas começou com o AI-5, a partir de Costa e Silva. Apesar dos arranhões constitucionais provocados pelo movimento militar de 1964, com Castelo ainda havia um simulacro de estado de Direito.
Finalmente, na última sala, ficarão os generais (Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo) e a turma contemporânea (Sarney, Collor, Itamar e FHC). A história, como aquela dona do ``Rigoletto", é ``mobile". Entre outras fotos, Vargas comparece acendendo o forno de Volta Redonda -e morto, com o tiro no peito. É o que mais se aproxima de um grande vulto realmente histórico.

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