São Paulo, quinta-feira, 10 de agosto de 1995
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Por que Dallari ficou

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - José Milton Dallari foi mantido no cargo basicamente por duas razões. A primeira e mais decisiva: quando, recém-empossado, o presidente Fernando Henrique o convidou a permanecer no Ministério da Fazenda, o próprio Dallari cuidou de lembrá-lo que possuía um escritório de consultoria em São Paulo. O presidente deu de ombros.
A segunda razão: se afastasse Dallari, o governo teria de se desfazer de mais da metade do segundo escalão de Brasília. Dallari é um grão de areia na duna que compõe as relações constrangedoras do governo com a iniciativa privada. Como ele há vários auxiliares econômicos donos de escritórios de consultoria.
É preciso conhecer os detalhes do caso para entender a decisão do governo. Fernando Henrique queria afastá-lo. Mas, se o fizesse, teria ainda de explicar por que manteve o auxiliar no cargo, a despeito das suspeitas que o cercam há um ano.
O caso só ganhou contornos de escândalo, aliás, porque o governo não se mostrou interessado na apuração da Receita Federal. A investigação conduzida pela chamada equipe de inteligência do Fisco estava malparada. Por isso transbordou para o PT e para a imprensa.
O governo não tentou propriamente deter a apuração. Até porque, depois de iniciada, é praticamente impossível sufocar a ação do Fisco. Já no final do governo Itamar, porém, Brasília começou a emitir sinais que deixaram atordoados os fiscais.
Afastou-se do cargo, por exemplo, uma delegada da Receita Federal em São Paulo. Chama-se Rosa Defensor. Um detalhe une a demissão de Rosa ao caso Dallari.
Os fiscais que escarafunchavam as relações do secretário com o mundo privado trabalhavam nas instalações comandadas por ela.
Em sua passagem pelo Ministério da Fazenda, Ciro Gomes chegou a chamar Dallari para uma conversa. Disse que tinha sabido de rumores sobre seu envolvimento com atividades privadas. Dallari foi seguro.
Disse a Ciro que havia se desligado do escritório. O ministro insistiu: ``Você está seguro disso?" E Dallari: ``Sim, estou seguro." Sua segurança custará caro ao governo Fernando Henrique. O preço político será alto.

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