São Paulo, sexta-feira, 11 de agosto de 1995
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Ossada de Rubens Paiva pode estar guardada no Rio

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Uma ossada que pode ser a do deputado Rubens Paiva está depositada há 15 anos no ossário do cemitério da Cacuia, na Ilha do Governador (zona norte do Rio).
Segundo documentos do IML (Instituto Médico Legal) do Rio examinados pela Folha, a ossada é a mesma encontrada na praia do Recreio dos Bandeirantes (zona oeste do Rio) em 1973 pelo ex-detetive Amauri de Oliveira.
Os documentos revelam que, em 2 de novembro de 73, foram achadas na praia duas ossadas. Uma delas seria de Paiva, segundo o diretor do IML de Cabo Frio (a 140 km do Rio), Jorge Galvão da Fontoura, 72.
Paiva desapareceu em 1971. O desaparecimento é creditado pela família, amigos e procuradores que investigaram o caso a órgãos de repressão do regime militar.
Fontoura afirma que concluiu que a ossada era de Paiva após comparar a arcada dentária de uma das ossadas com a ficha odontológica do deputado. Teria comparado também a marca de fratura na perna direita da ossada com fratura no sofrida por Paiva em 70.
Segundo Fontoura, a identificação foi mantida em sigilo por ordem do Ministério do Exército. À época, Fontoura chefiava o Serviço de Radiologia do IML do Rio. Ele afirma que a suposta ossada de Paiva desapareceu do IML dias depois.
Documento guardado no IML do Rio aponta o cemitério da Cacuia como destino das ossadas achadas no Recreio.
O cemitério confirma o recebimento das ossadas. O livro de registros informa que elas, chamadas de ``peças diversas", foram enterradas juntas no setor de indigentes no dia em que chegaram.
Lá, ficaram até 16 de agosto de 80, quando foram depositadas no ossário geral, ``onde estão até hoje", segundo o encarregado do cemitério, Antônio Estevão, 67.
Construído em cimento, o ossário parece uma cisterna. É quadrado, com lados de quatro metros de comprimento. A distância entre o piso e o teto é de dois metros.
Estevão disse que os ossos colocados no ossário são ensacados. Os sacos são numerados, de modo a localizá-los caso necessário.
Segundo Estevão, o tempo pode ter causado a ruptura do saco, mas, teoricamente, há chances de localizar os ossos encontrados há quase 22 anos na praia do Recreio.
Estevão disse que, nos primeiros anos da década de 70, chegaram ao cemitério muitos corpos de indigentes, que viriam em caixotes fechados. Os funcionários tinham ordem de não os abrir. Do lado de fora, uma tarja informava se era homem ou mulher.

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