São Paulo, sexta-feira, 11 de agosto de 1995
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Intelectual tinha receio do transplante

CLÁUDIA TREVISAN

CLÁUDIA TREVISAN; CARLOS MAGNO DE NARDI
DA REPORTAGEM LOCAL

"Estou diante da seguinte equação: se não me operar, tenho quatro meses de vida. Operando, tenho alguma chance."
A frase, dita há 20 dias por Florestan Fernandes ao historiador Carlos Guilherme Mota, traduz o dilema vivido pelo sociólogo antes de sua morte.
Aos 75 anos, Florestan foi o paciente mais velho a se submeter a um transplante de fígado no país. Ele tinha consciência dos riscos que estaria correndo se optasse pelo operação.
Ao mesmo tempo, estava cada dia mais debilitado pela doença e temia que a opção pelos quatro meses de vida lhe reservasse um final doloroso e melancólico.
"A vida dele estava muito ruim", disse ontem seu filho Florestan Fernandes Júnior. Segundo ele, o pai andava e falava com dificuldade e sentia dores cada vez mais intensas.
Nessa situação, viu na cirurgia a sua única chance de vida. Antes de decidir, Florestan recusou a sugestão do presidente Fernando Henrique Cardoso, de fazer tratamento nos Estados Unidos.

FHC
Na cerimônia em que concedeu a Florestan a Ordem do Rio Branco, há alguns meses, Fernando Henrique Cardoso lhe disse que poderia ajudá-lo a realizar o transplante nos EUA.
Florestan Júnior falou que seu pai refletiu sobre o assunto, mas decidiu permanecer no Brasil.
O sociólogo esperava por um fígado para o transplante desde 1994. A idéia inicial da família era que a cirurgia fosse realizada até julho deste ano.
Há um ano, Florestan Fernandes foi internado com uma crise hepática no hospital Sarah Kubitschek, em Brasília.
Florestan Júnior disse que as funções do fígado de seu pai foram prejudicadas por uma cirrose hepática.
Segundo ele, o sociólogo contraiu a doença nos anos 70, ao receber sangue contaminado com o vírus da hepatite B.
A angústia da família, segundo Florestan Júnior, vinha aumentando desde o início do ano. Não se encontrava um fígado compatível.
A angústia terminou na semana passada. Uma mulher de São Paulo, de 54 anos, sofreu um derrame e seus órgãos foram doados ao Hospital das Clínicas.
Durante o transplante, a equipe do Hospital das Clínicas encontrou um tumor maligno no fígado retirado. Segundo Florestan Júnior, o tumor não se alastrou, o que poderia complicar o quadro.

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