São Paulo, sexta-feira, 11 de agosto de 1995
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EUA aprova criação do "chip de censura"

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O Congresso dos EUA aprovou projeto de lei determinando que todos os aparelhos de televisão vendidos no país a partir de 1996 terão de ser equipados com um certo ``chip" (circuito microeletrônico).
O problema é que esse chip, chamado de ``v-chip", não existe e vários cientistas acham que ainda pode levar alguns anos até ele ser inventado.
A idéia do v-chip é que ele seja capaz de ler um sinal a ser emitido junto com todos os programas de televisão, informando a sua classificação em termos de cenas de violência ou sexo neles contidas.
Cada programa terá seu índice de violência e/ou sexo e em cada residência os pais serão capazes de programar o aparelho de televisão para bloquear a recepção dos shows que eles considerarem inadequados.
O v-chip é que fará a leitura da classificação de cada programa e impedirá que ele seja recebido pelo aparelho.
Segundo dirigentes da área de pesquisa de algumas das principais empresas de informática, esse tipo de tecnologia ainda não foi criado.
O projeto de lei, que o presidente dos EUA Bill Clinton pretende vetar devido a outros dispositivos nele incluídos, é, portanto, incumprível.
``É como se o Congresso tivesse ordenado à indústria automobilística que equipasse todos os seus carros com sacos de ar de segurança em 1950, quando eles não existiam", diz Neil McGlone, da Texas Instruments.
Ele acha que a idéia do v-chip é realizável. Mas o tempo que vai levar para ela se materializar depende do grau de urgência que os clientes das empresas de computação dispensar a ela.
As emissoras de TV do país e os produtores de aparelhos receptores não gostaram da proposta e nada farão para acelerar o processo.
O que existe, por enquanto, são instrumentos similares ao v-chip, a maioria em fase de experiência.
Quando as companhias telefônicas estiverem distribuindo sinais de televisão, por exemplo, será possível exigir do espectador a apresentação de algum código pessoal para poder ordenar alguns serviços.
A idéia é impedir que menores, ladrões ou visitantes façam compras ou peçam a exibição de filmes na televisão interativa.
Um canal de TV por cabo, o Sega, especializado em videogames, permite o bloqueio de certos programas. O pedido é feito por telefone e a companhia de cabo deixa de mandar esses shows às residências que não os querem.
Rob Agee, editor da revista Interactive Television Report, especializada em televisão interativa, acredita que a decisão do Congresso vai funcionar apenas como uma espécie de sinal de alerta para as emissoras.
Ele acha que, até o v-chip ser projetado, construído, comercializado e estar presente em um número significativo de residências, pode demorar até dez anos, o que inviabiliza na prática a ação política do Congresso.

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