São Paulo, sexta-feira, 11 de agosto de 1995
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Vice jura lealdade a Samper

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ

Ao tentar defender o presidente Ernesto Samper, o vice-presidente colombiano acabou emitindo o mais claro sinal da profundidade da crise.
``Não incorrerei em um ato de deslealdade com o presidente para satisfazer a platéia", disparou Humberto de la Calle Lombana, ao se despedir para viajar a Madri, como embaixador da Colômbia.
É o mais nítido reconhecimento de que há uma ``platéia" pedindo uma de duas coisas: ou a renúncia de Samper ou o seu impeachment pelo Congresso.
``El Espectador" é historicamente um jornal liberal, o partido do presidente e do vice De la Calle.
O fato é que o presidente gasta mais tempo defendendo sua honra do que governando e ainda escorrega. O mais recente problema para Samper é o casal Jesús Sarria e Elizabeth Montoya de Sarria.
Gravação de uma conversa entre Elizabeth e o presidente, durante a campanha eleitoral, sugere que ele recebeu doações do narcotráfico via Brasil.
Samper se defendeu dizendo que, no momento da gravação, ``a senhora Sarria e seu marido não estavam sendo investigados nacional ou internacionalmente por negócios indevidos".
Errado. Já em 1986, oito anos antes da conversa, Elizabeth fora presa nos EUA por posse de entorpecentes. Seu marido, Jesús, foi apontado em abril de 94 como proprietário de um carregamento de 5,9 toneladas de cocaína apreendido em El Salvador.
É verdade que foi depois da tal conversa gravada, mas o jornal ``El Tiempo" (também liberal) pergunta: ``Por que (Jesús) foi um dos colombianos que teve a honra de ser convidado para a posse do presidente Samper, dia 7 de agosto do mesmo ano?" (depois, portanto, da apreensão do carregamento).
Nesse ambiente carregado, faz todo o sentido a providência que o presidente acaba de tomar: designar o advogado Antonio José Cancino Moreno para defendê-lo no Congresso.
Sinal de que Samper se preocupa com a hipótese de que a ``Comissão de Acusações" da Câmara dos Deputados possa considerar que os elementos disponíveis aconselham o seu julgamento político, a ser feito no Senado.
Não bastasse tudo isso, o presidente ainda enfrenta uma nova ofensiva da guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que sitiou a cidadezinha de Miraflores e deixou 13 mortos, sendo seis policiais.
O enterro serviu para que as Forças Armadas prometessem endurecer, quando o presidente tenta montar um amplo pacto pela paz que envolveria a guerrilha.
(CR)

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