São Paulo, domingo, 13 de agosto de 1995
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Reajuste salarial segura consumo

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma combinação de fatores acabou produzindo uma desaceleração gradativa do consumo.
As medidas adotadas pelo governo, de forma cumulativa, para restringir o crédito, mostraram-se eficazes, segurando (e fazendo embicar para baixo) o consumo de crediário.
Mas o aumento do salário mínimo e a concentração de dissídios (renovação anual dos acordos salariais de categorias profissionais) no bimestre abril/maio acabaram sustentando as vendas à vista.
A combinação desses fatores, segundo Fernando Montero, da MB Associados, descarta a hipótese de uma queda abrupta e instantânea do nível de consumo.
Montero descarta o risco de uma depressão (recessão profunda da economia): ``O governo não quer e tem os instrumentos para evitá-la."
Para ele, é importante levar em conta que a desaceleração do consumo está se dando em um cenário em que não há explosão de preços -ao contrário do que aconteceu em todas as demais tentativas de estabilização. ``Isso está contribuindo para preservar a renda do consumidor."
Tanto que a remuneração (salários mais ganhos de trabalhadores sem carteira) nominal média mensal subiu 13% em maio, segundo os dados coletados pelo Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados).
Para Montero, a queda do consumo, porém, não está se dando de maneira homogênea. ``O de produtos duráveis (carros, por exemplo) e semiduráveis (vestuário) vem caindo desde maio. Entretanto, os segmentos de bens não-duráveis (comida, por exemplo) vendem bem até mesmo no interior do país, que foi duramente castigado pela crise agrícola."
Essas discrepâncias são explicadas pela forma desigual com que as medidas do governo atingiram as diversas categorias de assalariados. ``A classe média foi a mais prejudicada."
O reajuste do salário mínimo, por exemplo, significa um crescimento do poder de compra das camadas mais pobres e um aumento de custos para a classe média.
Além disso, afirma, a classe média está mais endividada do que se supunha. Parte da renda obtida com a estabilização dos preços está sendo comprometida com o pagamento de juros.
Ele lembra que o processo de renegociação das dívidas embute ou um custo (juro) menor ou um prazo maior para o pagamento -o que reduz a parcela da renda que é comprometida.

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