São Paulo, domingo, 13 de agosto de 1995
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Terceiro trimestre será o ``inferno do Plano Real"

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA; FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A indústria vai pagar a maior parte da conta do ajuste, com queda das encomendas, aumento do desemprego e retração da produção neste terceiro trimestre.
A avaliação é do consultor Fernando Montero, da MB Associados. ``Estamos vivendo o inferno do Plano Real."
Em junho, enquanto as vendas físicas mostraram queda de 1,77% na ponta do comércio, o nível de atividade industrial caiu 4,98%, de acordo com a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), ou 4,57%, segundo o levantamento da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
A distância entre a queda do consumo e do nível de atividade na indústria é, em alguns setores, ainda maior.
Segundo levantamento preliminar da federação do comércio paulista, o faturamento real das concessionárias de veículos sofreu retração de 21% no mês de julho -sendo, segundo avalia Montero, 7% por conta da queda real dos preços, e 13%, por conta da queda das vendas.
No mesmo período, as vendas de carros das montadoras para as revendedoras sofreram retração de 24,5%, enquanto a produção despencou 28,4%.
``O setor automobilístico radicaliza o que está acontecendo no restante da economia. Os números mostram um esforço para desovar estoques", diz Montero.
Desde meados do segundo trimestre, ficou evidente que o governo conseguiu gerar um desaquecimento do consumo, procurando diminuir o grau de absorção da economia (veja outro texto). A oferta de bens (nacionais e importados), porém, não se ajustou no mesmo ritmo, fazendo crescer mais o nível de estoques.
É que, segundo Montero, existe alguma inércia no comportamento das importações. ``Desde março, está claro que carro importado não era um bom negócio, mas as importações só começaram a recuar cinco meses depois."
A existência de estoques elevados acaba aumentando a retração das encomendas industriais em relação ao consumo das famílias -o que explica a crise ser mais aguda na indústria do que no comércio. Além disso, a inércia das importações continua jogando produtos numa economia mais desaquecida, o que deposita ``na produção doméstica o peso maior do ajuste".
É que a produção tem de cair mais do que caiu o consumo para abrir espaço para a desova de estoques. É o que mostra o gráfico nesta página, quando, no terceiro trimestre, mostra a linha da oferta de bens abaixo da do consumo.
Por ironia, essa dinâmica de ajuste vai permitir um quarto trimestre favorável ao governo.
Na medida em que a economia desova seus estoques abre espaço para a indústria voltar a crescer. Além disso, a recuperação virá com superávit na balança comercial (exportações maiores que importações). ``Hoje estamos encomendando o saldo comercial do quarto trimestre."
Para Montero, o governo deve aproveitar esse momento favorável para ``consolidar a estabilização". Até porque, ressalva, é prematuro projetar o cenário do quarto trimestre para todo o ano de 96.
O otimismo quanto ao quarto trimestre é compartilhado por José João Locoseli, presidente da Abipla (que reúne o setor de limpeza). Ele espera um crescimento da produção já a partir de setembro.
Roberto Macedo, da Eletros (que reúne os fabricantes de eletrodomésticos), afirma que ``fecharemos o ano em um patamar superior ao da média do ano passado, sem pressões sobre a demanda e preços".

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