São Paulo, domingo, 13 de agosto de 1995
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Para consultor, Argentina depende de sucesso do Real

DENISE CHRISPIM MARIN
DE BUENOS AIRES

O consultor argentino Miguel Broda, afirmou que com o Mercosul a Argentina tornou-se dependente das decisões da equipe econômica brasileira.
Broda também ponderou que o modelo econômico adotado pelo Brasil é lento e dá margens à atuação de lobbies empresariais.
Desta forma, o Brasil poderia impor riscos ao plano econômico argentino, administrado pelo ministro Domingo Cavallo, que Broda vê como modelo de sucesso.
``Continuo pensando que a política econômica do Brasil é muito sujeita aos interesses da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo)", afirmou.
``Tudo pode ser privatizado, menos a política econômica", completou.
Ele se referia às mudanças no programa brasileiro que teriam sido provocadas por pressões de setores produtivos, como as cotas de importação para automóveis.
Broda é sócio e diretor do Estudio Miguel A. Broda e Associados, que faz consultoria econômica e financeira a empresas do país.
Também é presidente de uma sociedade especializada em qualificação de riscos de empresas que necessitam de empréstimos.
Em entrevista à Folha, Broda comentou que a economia brasileira continua protegendo os produtos nacionais, com uma política comercial que discrimina os importados.
O comércio exterior brasileiro, em sua opinião, estaria sujeito aos ``interesses protecionistas representados pelos ministros José Serra (Planejamento) e Dorothea Werneck (Indústria, Comércio e Turismo)".
Segundo seus dados, 50% dos produtos exportados pela Argentina têm como destino o Brasil.
Desta forma, o resultado positivo da balança comercial (exportações menos importações) argentina neste semestre teria sido, em parte, consequência do aumento do consumo brasileiro desencadeado pelo Plano Real.
A dependência da Argentina ao Brasil não estaria restrita aos interesses comerciais. Segundo Broda, seu país usa o Brasil como ponte para receber recursos externos.
O sucesso do Plano Real, portanto, também seria essencial para que os investidores estrangeiros não desviassem o rumo planejado para a Argentina.
``A economia argentina é vulnerável e frágil. Qualquer interrupção do Real resultará em bloqueio da entrada de investimentos na Argentina", afirmou.
Broda também comentou que não acredita na concorrência entre os dois países pelo ingresso de capital estrangeiro. O Brasil, segundo ele, tem uma potencialidade bem maior que seu país.
Desta forma, prevê que a Argentina pode esperar por investimentos da ordem de 20% do total que deverá ser destinado ao Brasil.
Embora se diga otimista com o programa brasileiro -a longo prazo-, Broda destila pessimismo para os próximos meses.
Ele teme, basicamente, a lentidão do governo brasileiro em implementar as reformas estruturais necessárias, como o programa de privatização.
Para ele, o êxito do plano em derrubar a inflação se deve, em parte, à decisão de realizar essas reformas rapidamente, como choque econômico.

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