São Paulo, domingo, 13 de agosto de 1995
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País quer diminuir imagem de risco

DENISE CHRISPIM MARIN
DE BUENOS AIRES

A equipe econômica argentina está levando adiante uma estratégia para permitir que o país se diferencie dos demais incluídos na lista de emergentes. A tarefa, segundo analistas econômicos, pode ser levada a cabo em 18 meses.
A tática do governo prevê a diminuição do risco do país. Ou seja, elevar a Argentina na escala que qualifica os países de acordo com o menor risco que oferecem aos investidores estrangeiros.
Sete meses depois da crise mexicana, a Argentina já conseguiu aumentar em dois pontos sua qualificação, em relação à posição que tinha em dezembro de 94.
O país tem hoje melhor qualificação que o Brasil, mas está atrás do Chile e do México.
Essa expectativa foi apresentada no início do mês pelo consultor argentino Miguel Broda, do Estudio M.A.M. Broda e Associados, a um grupo de 60 executivos, em Buenos Aires, à qual a Folha teve acesso.
Um dos indicadores que reforçam esse ponto de vista foi a operação de recompra de títulos da dívida pública a preços mais baixos desencadeada pelo governo.
O pagamento de dívidas públicas é um dos fatores que mais pesam na qualificação de riscos de um país.
``A equipe econômica privilegiou a reconquista da confiança internacional", afirmou Broda.
A expectativa do governo é de que possa atrair capitais estrangeiros com a melhora da imagem do país frente aos investidores.
Com a queda das taxas de juros nos Estados Unidos, Japão e Alemanha, os investimentos estão se deslocando para países que oferecem retornos mais altos, como a Argentina e o Brasil.
Além disso, também está sendo considerada a tendência dos norte-americanos de poupar mais e gastar menos.
Esse montante de dinheiro também busca mercados onde possa ser investido com pequena margem de risco e altas taxas de juros.
``A euforia dos ativos nos Estados Unidos é tão grande que dá medo", disse Broda. ``É a oportunidade que a Argentina tem."
A atração de capital seria uma receita alternativa para combater o desemprego, a falta de crédito e a queda na atividade industrial que o país vem registrando.
Segundo Broda, outro indicador de que o país pode melhorar sua imagem no exterior foi a requalificação, em junho, da Polônia.
``Se a Polônia melhorou sua posição, a Argentina também poderá fazê-lo em 18 meses", afirmou.
Há informações de que técnicos da consultoria norte-americana Moody's, especializada em qualificação de risco, já estariam estudando o caso argentino.
Segundo Broda, também asseguram a requalificação argentina o apoio do presidente, Carlos Menem, ao ministro da Economia, Domingo Cavallo, em cada situação de crise.
Mesmo diante do aumento da taxa de desemprego, dos conflitos nas Províncias e da recente demissão dos condutores da área de arrecadação de impostos, Menem tem reforçado o poder de Cavallo.
Isso significa que o Plano de Convertibilidade -que impôs controle de emissão de moedas e dos gastos públicos, privatizações e manutenção da cotação do peso em US$ 1- vai continuar.

Recompra de títulos
A equipe econômica espera obter US$ 720 milhões com a recompra dos títulos da dívida pública.
A estratégia do governo começa com a emissão de eurobônus em marcos (moeda alemã), no valor de US$ 720 milhões. Eles devem ser vendidos no mercado externo até 29 de agosto próximo.
Três grandes bancos de investimentos vão participar da comercialização do eurobônus -o norte-americano CS-First Boston, o alemão Deutsche Bank e o japonês Nomura.
Com o dinheiro em caixa, o ministro Cavallo pretende abrir licitação para a compra de títulos da dívida pública. Esses títulos mantém atualmente altas taxas de juros e colaboram para elevar o custo do endividamento do país.

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