São Paulo, domingo, 13 de agosto de 1995
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`Pedir dinheiro não era o que eu esperava'

DANIELA FALCÃO
DE NOVA YORK

Brenda Ellerbo, 38, tem o Segundo Grau completo, sabe datilografar, mas, mesmo assim, não consegue emprego há três anos.
Casada, com três filhos, ela é parte dos 32,9% de negros na sociedade de Nova York que vivem abaixo da linha de pobreza.
Brenda e o marido vivem em uma kitchenette no Harlem. Pagam US$ 370 por mês de aluguel.
``Não consigo emprego. Eles hoje só querem contratar gente que saiba computação. Não adianta nada saber datilografia", afirma Brenda, que começou a beber há cinco anos.
``Sou alcoólatra e isso só complica a situação. Já perdi a esperança de conseguir emprego. Mas eu não era assim. Acho que comecei a beber por causa do desespero de não conseguir juntar o suficiente nem para comer", diz.
Os filhos do casal (com idades entre 21 e 7 anos) moram com familiares, também no Harlem. ``Na minha casa não tem luz, nem água. Não dá para criar os filhos. Sinto falta, mas eles estão melhor longe de mim."
Sem ter emprego, Brenda passa o dia inteiro nas ruas do West Village. Ela conhece boa parte dos moradores pelo nome e é cumprimentada pela maioria.
``Pedir dinheiro na rua não era o que eu esperava da vida, mas não é tão ruim e a gente termina conhecendo gente interessante".
Brenda afirma que sua renda semanal varia muito. ``Em média consigo uns US$ 400 por mês, além de roupas e comida. Quando a situação complica, a gente pede ajuda à igreja."
Para ela, o pior de ser pobre em Nova York é ter que aguentar o inverno.
``As pessoas aqui são solidárias e sei que não vou morrer de fome. O problema é que, no inverno, não basta conseguir dinheiro. O apartamento fica gelado e ninguém pode ajudar. Todo ano acho que vou morrer congelada."
Segundo Brenda, desde que começou a pedir esmola, o número de sem-teto cresceu muito. ``Há uns quatro anos éramos só eu e dois ou três amigos. Hoje, tem mais de 20 pessoas pedindo dinheiro no meu quarteirão."
Brenda faz questão de dizer que, apesar de pedir esmola, ela não é uma sem-teto e mostra as chaves de seu apartamento.
``Não sei se dá para chamar aquela espelunca de casa, mas pelo menos posso deixar minhas coisas lá. Tenho privacidade e isso é o mais importante. Acho que, se não tivesse um lugar meu, ficaria maluca de vez."(DF)

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