São Paulo, domingo, 13 de agosto de 1995
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A Colômbia vai ser aqui

CLÓVIS ROSSI

BOGOTÁ - A violência atual nas grandes cidades brasileiras vai ficar parecendo mero recreio infantil se estiver correta a previsão do embaixador norte-americano na Colômbia, Myles Frechette.
Conforme se verá em detalhe páginas adiante, Frechette está convencido de que o cerco ao narcotráfico na Colômbia fará com que os traficantes desloquem seus laboratórios para ``os países vizinhos".
Onde está dito ``países vizinhos", leia-se Brasil. A não-explicitação do nome é mera cortesia diplomática.
Os laboratórios são o coração do negócio. É neles que se transforma a inocente folha de coca, de utilidade medicinal, na mortal cocaína. Se o embaixador acertar na previsão, a taxa de violência, já elevadíssima no Brasil, tende a tornar-se insuportável.
Basta olhar para o que ocorre na Colômbia, ainda o grande centro de processamento da matéria-prima que vira cocaína (e, agora, também da heroína). No primeiro trimestre deste ano foram assassinadas 8.491 pessoas, o que dá 77,5 assassinados para cada grupo de 100 mil habitantes. Na média da América Latina, a proporção é infinitamente mais baixa (17 por 100 mil).
A menos que haja algum tarado capaz de imaginar que os colombianos são portadores de um problema genético que os impele a matar mais do que outras sociedades, a explicação para a violência exacerbada só pode ser uma: o narcotráfico.
Se no Brasil, em especial no Rio, já há o morticínio conhecido na disputa pelos pontos de venda da droga, imagine-se a quantidade de sangue que vai correr se e quando o que estiver em questão for não o produto final, sempre substituível, mas a própria ``fábrica".
Suspeito que a previsão de Frechette não é apenas uma informação jornalística, mas também uma advertência velada às autoridades brasileiras. Afinal, o combinado era que a conversa seria ``off the record", jargão jornalístico para não-menção da fonte de uma declaração.
Mas Frechette liberou para publicação entre aspas e com seu nome essa tenebrosa previsão. Sintomático?

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