São Paulo, segunda-feira, 14 de agosto de 1995
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Equipe marca genes com 'código de barras'

ANDY COGHLAN
DA "NEW SCIENTIST"

Código de barras moleculares feitos de DNA estão ajudando os bacteriologistas a identificar e descapacitar os genes que possibilitam a bactérias causar doenças, segundo pesquisadores britânicos.
O DNA, ou ácido desoxiriibonucléico, é a molécula que constitui os genes, responsável pela transmissão das características hereditárias dos pais para filhos em todas as espécies de seres vivos. Cada gene codifica a produção de uma determinada proteína.
Uma vez identificados os genes "virulentos" nas bactérias, podem-se desenvolver antibióticos que agem especificamente contra as bactérias e as proteínas "virulentas" que elas produzem.
O novo sistema é cerca de cem vezes mais rápido que as técnicas existentes.
"Genes virulentos são os que permitem às bactérias invadir e se multiplicar em seus hospedeiros", diz David Holden, do Royal Medical School em Londres (Reino Unido), um dos pesquisadores.
Em média, 1 a cada 20 genes bacterianos contribui para a virulência da bactéria. Os pesquisadores testaram a nova técnica na bactéria Salmonella typhimurium, que causa gastroenterite em humanos e uma forma de tifo em ratos.
Eles criaram diferentes linhagens da bactéria usando transposons para inativar os genes.
Transposons, ou "genes saltadores", se integram ao acaso no DNA. A maioria dos genes onde eles "aterrissaram" pára de funcionar.
Alguns dos genes inativados serão essenciais à virulência, mas a maioria não. Cada transposon foi primeiro "etiquetado" com um único pedaço de DNA -o código de barras molecular- o qual os pesquisadores podem "ler" com uma sonda especial.
A técnica trabalha por um processo de eliminação. As bactérias são injetadas nos ratos. Só as linhagens de bactérias virulentas sobrevivem para penetrar no baço dos animais, onde as infecções são eliminadas do sangue.
As linhagens que foram perdidas do baço são as únicas com um gene virulento desabilitado.
Quando os pesquisadores injetaram primeiro as diferentes linhagens de bactéria nos ratos, eles mantiveram parte do material.
Usando o código de barras, eles conferiram as linhagens encontradas no baço com o material original para encontrar o que eles haviam perdido. As linhagens perdidas são as que contêm os genes virulentos desabilitados.
Eles usaram a técnica para identificar cerca de 1.150 genes dos cerca de 4.000 do genoma da bactéria, identificando 40 genes que aparentemente são os responsáveis pela virulência da bactéria. Então, analisaram 28 desses, em detalhe.
"Os outros nove têm sequências que não têm similaridade com nada nos bancos de dados de DNA e representam novos alvos para o desenvolvimento de medicamentos", diz Holden.
A vantagem da nova técnica sobre os métodos convencionais é que permite aos pesquisadores identificar muitos genes virulentos simultaneamente. Holden injetou cada animal com 100 linhagens diferentes, efetivamente identificando 100 genes em cada rato.
Nas tentativas anteriores para identificar genes virulentos, usando diferentes linhagens de bactérias, os pesquisadores tiveram de testar cada linhagem em diferentes animais, porque eles não tinham como distinguir uma linhagem da outra.
"Nós podemos agora fazer o que outros já tinham feito anteriormente, mas com cem vezes menos animais num centésimo de tempo", diz Holden.
Ele também afirma que seria fácil adaptar o sistema de código de barras para a identificação de genes virulentos em outros tipos de bactérias e fungos.

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