São Paulo, segunda-feira, 14 de agosto de 1995
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México investe três vezes mais em telecomunicações

FLAVIO CASTELLOTTI
DA CIDADE DO MÉXICO

Com a privatização, o volume de investimento no setor de telecomunicações mexicano passou de US$ 700 milhões por ano para US$ 2,1 bilhões.
Passados quatro anos e meio da venda da Telmex (Teléfonos de México), maior companhia latino-americana do ramo de telecomunicações, o balanço geral é positivo. A empresa obteve lucro de US$ 2,3 bilhões em 94.
Na lista das 500 maiores empresas do mundo, publicada na última edição da revista ``Fortune", a Telmex aparece na 447ª posição, porém é a 23ª empresa mais lucrativa do mundo. Entre dezembro de 90 e dezembro de 94, o número de linhas telefônicas em operação no México aumentou 63% e o número de telefones para cada cem habitantes subiu de 6,4 para 9,3 (no Brasil é cerca de 6,7).
Esses e outros dados estão no livro de Gabriel Székely, ``Telmex, uma Empresa Privada". Em entrevista à Folha, o professor do Colégio de México, autor do livro, mostrou-se positivo quanto à privatização da Telmex, porém tem suas críticas. ``Não houve um salto qualitativo nos serviços oferecidos e as tarifas dos serviços locais aumentaram uns 12% em termos reais", avalia Székely. A seguir, trechos da entrevista.

Folha - Passados quatro anos e meio, como o sr. avalia a privatização da Telmex?
Gabriel Székely - Os resultados são benéficos tanto para a empresa como para o país. Em termos financeiros, a Telmex triplicou seu valor de mercado. Quanto à infra-estrutura de telecomunicações do país, todos os indicadores mostram crescimento após a privatização.
Folha - Então o processo de abertura foi um êxito total?
Székely - Cerca de 50% do êxito ainda está por vir. Até agora a Telmex viveu sob um regime de monopólio privado, pois outras empresas só têm permissão para entrar no mercado mexicano a partir de 97. Só poderemos dizer que o êxito da abertura foi completo, quando o setor estiver funcionando em regime de mercado.
Folha - Os usuários, porém, reclamam do aumento de tarifas.
Székely - De fato, as tarifas dos serviços locais aumentaram cerca de 12%, em termos reais, depois da privatização, e a tendência é que continuem subindo. De modo geral, ainda estão baixas, se comparadas às de outros países.
No mesmo período, as tarifas internacionais registraram queda real média de 14,5%. Claro que as ligações para fora do país representam parcela bem inferior (26,6%) da receita total da empresa, em comparação com os serviços locais (70,3% das receitas).
Folha - E como fica a situação da Telmex com a entrada já anunciada de gigantes do setor a partir de 97?
Székely - A Telmex armou uma estrutura capaz de mantê-la como líder do mercado mexicano pelos próximos dez anos, porém depois disso, a situação vai complicar.
A empresa cresceu financeiramente e operacionalmente, mas a qualidade não mudou. Também não houve aumento real da produtividade. Multinacionais do ramo, como AT&T, Motorola e MCA já anunciaram investimentos pesados no mercado mexicano. Elas pagam melhor e poderão ``roubar" muita gente boa da Telmex. As perspectivas são de um mercado bastante competitivo. Há espaço para todos. Contudo a Telmex vai ter de adaptar-se a um regime de mercado. Com certeza os níveis de investimento vão baixar. Eu calculo uma média de US$ 1,2 bilhão anual para os próximos cinco anos, contra os US$ 2,1 bilhões anuais observados nos últimos quatro anos.
Folha - Como a crise mexicana afetou o setor?
Székely - Em termos de investimento, nada muda, pois todos sabemos que o setor de telecomunicações tem retorno a longo prazo, enquanto que a crise, por mais profunda que seja, é passageira.
Em termos financeiros, abalou fortemente a Telmex, que viu sua dívida em dólares passar de US$ 1,3 bilhão, em março de 94, para US$ 2,5 bilhões, em março deste ano, em função da desvalorização do peso. Com isso, o lucro da Telmex, no primeiro semestre do ano, caiu 32% com relação ao mesmo período de 94, porém continua alto: US$ 680 milhões entre janeiro e junho.
Folha - No livro, o sr. compara indicadores do setor de telecomunicações entre México e Brasil. Como o sr. analisa a possibilidade de abertura desse mercado no Brasil?
Székely - Com certeza traria resultados iguais ou melhores que os observados no México. O Brasil possui uma base política mais sólida para a abertura. Creio que a transição para uma economia de mercado se daria mais rapidamente que no México.

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