São Paulo, segunda-feira, 14 de agosto de 1995
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O desastre político do Econômico

LUÍS NASSIF

A política matou a capacidade de modernização do Banco Econômico a partir dos anos 70. E, agora, contribuiu decisivamente para a sua morte.
A conjuntura inflacionária ajudava a disfarçar as mazelas de bancos com estrutura precária de capital. O fim da inflação expôs suas dificuldades. Não fosse sua retaguarda política, o Banco Central teria sido liberado para buscar soluções de mercado para o Econômico logo no início do Plano Real, quando seus problemas ainda eram administráveis. Desde a gestão Pérsio Arida, o BC buscava saídas para o Econômico. Mas ficou de mãos amarradas pelo forte lobby baiano, que exigia uma solução local para o caso.
Não fosse a crença cega no poder político da Bahia, há muitos anos seu controlador, o ex-ministro Ângelo Calmon de Sá, já estaria à cata de sócios, para transferir o controle da instituição.
O banco foi vitimado pela insistência em buscar uma solução baiana para ele.
E aí entra em questão o papel do senador Antônio Carlos Magalhães. Independentemente das avaliações que se façam sobre seu papel político, não há quem não reconheça no senador o político que melhor e com mais garra defende os interesses de seu Estado perante a União. Mas a falta de familiaridade com o universo financeiro fez com que fossem cometidos erros palmares na condução dos negócios.
Como rumores costumam ser fatais para bancos em dificuldades, o processo de venda teria que ser rápido e discreto, para não afetar os depósitos do banco. Tudo isto exigiria um profundo trabalho prévio, antes que seus problemas se tornassem públicos.

Trabalho prévio
Esse trabalho passava por um levantamento completo das contas do banco, por auditorias independentes e com credibilidade, e pela montagem prévia de uma engenharia financeira eficiente, que pudesse ser oferecida pronta aos possíveis compradores. E por contatos prévios e reservados com grupos interessados.
A entrada do banqueiro Daniel Dantas na operação teria que ter se dado no mínimo seis meses antes do desastre.
Fez-se tudo às avessas. Primeiro, deixou-se que a situação do Econômico se deteriorasse.
Depois, buscou-se para sócias empresas que não tinham um pingo de interesse em adquirir o banco. Foram convocados os grupos Odebrecht, Suzano e Ultra, que participam do pólo petroquímico da Bahia. Individualmente, o único interesse de cada um no negócio era que nenhum dos dois outros comprasse a participação do Econômico no setor petroquímico.
Havia duas maneiras de isso não ocorrer. A primeira, dos três grupos adquirirem o Econômico em conjunto. A segunda, que o negócio não se realizasse.
Nessa conjuntura, as empresas viram-se pressionadas, de um lado, pela necessidade de decidirem rapidamente. De outro, pela ausência de experiência na área financeira. Os três chegaram a solicitar ao banqueiro Pedro Mariani, do Banco da Bahia, que entrasse e ajudasse a avaliar o negócio. O banqueiro passou vários dias em Brasília e não obteve sequer uma informação confiável sobre o Econômico.
Donde o grupo deve ter concluído que o caminho mais seguro e barato seria o da não concretização do negócio. As propostas vazaram para a imprensa, e o negócio melou.
A partir daí, o Econômico estava condenado. Aumentaram os saques e a intervenção do BC foi a única maneira de impedir a quebra total do banco.
A partir de agora, haverá uma negociação difícil. Embora seja da lógica do BC impedir prejuízo aos correntistas, o tamanho do rombo nos últimos dias é que dirá o tamanho do prejuízo dos correntistas.

Banco Central
Com todo o desgaste que trouxe para o governo, o caso Econômico reforça a prioridade técnica que está sendo dada à política do BC para o setor. Mas certamente tornará politicamente inviável a postergação do caso Banespa.
Não haverá argumento que convença a Bahia por que manteve-se o Banespa liberado do recolhimento do compulsório, sem impor prazo para sua privatização, e não se concedeu o mesmo tratamento para o Econômico.
O presidente da República terá que sair do muro e decidir rapidamente a questão.

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