São Paulo, segunda-feira, 14 de agosto de 1995
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Vietnã descobre a propaganda

HELCIO EMERICH

Vinte anos depois da retirada das tropas dos EUA do país, está em curso uma nova invasão do Vietnã. Só que desta vez os bombardeios e as forças de ocupação americanas (que não ocuparam nada, diga-se) deram lugar ao desembarque dos símbolos e logotipos das grandes marcas do capitalismo mundial, a começar pelas indefectíveis Pepsi e Coca.
O Vietnã foi uma das primeiras nações do chamado bloco soviético a empreender reformas econômicas, a partir de 1986. Com a redução da presença militar e da ajuda da União Soviética, o governo vietnamita promoveu uma abertura para o Ocidente e para a Ásia em busca de novos parceiros comerciais.
Embora a Pepsi e a Coca já tivessem instalado unidades de engarrafamento dos seus refrigerantes no Vietnã do Sul, as companhias americanas ficaram à margem do processo de abertura por causa do bloqueio econômico imposto pelos EUA (já suspenso pelo presidente Clinton).
Tiveram que assistir à corrida dos investidores estrangeiros liderados por Taiwan, Hong Kong e pela França, que injetaram no país cerca de US$ 8 bi. Agora, além das "colas", multinacionais como a Microsoft e a IBM, seguidas pelos japoneses da Sony e por empresas coreanas, disputam as fatias mais seletivas de um mercado de 72 milhões de consumidores (70% com idade abaixo dos 40).
Com uma renda ``per capita" em torno de US$ 200, o Vietnã ainda é um dos países mais pobres do mundo, mas a terapia de choque iniciada em 86 vem produzindo resultados surpreendentes (a inflação anual, por exemplo, baixou nos últimos dez anos de 775% para 5%).
O regime socialista vietnamita ainda é dominado pelo marxismo, mas a maioria dos altos funcionários do governo, treinados em Moscou, foi testemunha da desintegração do bloco soviético e acredita que só a economia de mercado poderá colocar o país na mesma rota de desenvolvimento dos ``tigres asiáticos".
As agências de propaganda americanas também começam a chegar no Vietnã. A primeira foi a Backer Spievogel Bates, de Nova York. Num artigo que escreveu para uma publicação interna da BSB, seu "chairman", Carl Spievogel, que visitou o sudeste asiático, conta que a cultura vietnamita obriga as agências a segurar ao máximo seus impulsos criativos.
O que funciona para o consumidor vietnamita, segundo Carl, pode ser resumido no trinômio "veja, experimente e compre", nada além disso. Afinal, o povão está vendo a maioria dos produtos americanos pela primeira vez.
Não é por outra razão que a mídia mais eficiente no Vietnã, por enquanto, tem sido o outdoor, que mostra apenas o produto e o nome.
"Novidades" como peças promocionais ao ar livre -caso de embalagens gigantes infláveis da Pepsi ou balões em forma de garrafa, da Coca- atraíram milhares de pessoas às praças públicas de Hanói e Ho Chi Minh (a antiga Saigon), as duas maiores cidades do país.

Hoje, excepcionalmente, deixamos de publicar a coluna Criação & Consumo

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