São Paulo, segunda-feira, 14 de agosto de 1995
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Em casa onde falta pão, todos gritam

MARCELO CHERTO; MARCUS RIZZO

MARCELO CHERTO E MARCUS RIZZO
Acabou a lua-de-mel. Franqueados de empresas mal-estruturadas que, até agora, pareciam acomodados e pouco exigiam em troca das taxas de franquia e dos royalties que pagam, resolveram botar a boca no trombone. A vida está difícil, os juros estão um absurdo, as vendas de muitos setores estão baixas. Tudo isso levou os carinhas a descobrir que, ou eles próprios lutam por seus interesses, ou vão acabar com a boca cheia de formiga.
Dentro de algumas semanas esta coluna completa sete anos de existência. Desde o seu início, vem martelando alguns conceitos e princípios fundamentais para que a relação entre um franqueador e seus franqueados tenha vida longa e saudável.
Por exemplo: franqueador que se preze não ganha a vida comprando produtos no mercado e revendendo-os aos franqueados por um preço mais alto. Pode até funcionar a curto prazo, mas chega uma hora em que os franqueados sacam que podem conseguir o mesmo produto ou insumo, com a mesma qualidade e, muitas vezes, até a mesma marca, por 30% ou até 50% menos do que o franqueador lhe cobra. Aí ninguém segura!
O pior é que tem franqueador fazendo isso até com ``commodities", como farinha, mozarela e frango. É vontade de armar confusão! Quem é que acha que um franqueado vai ficar tranquilamente pagando o preço imposto pelo franqueador sem tentar furar o esquema ou buscar uma saída legal? Principalmente numa época de vacas magras como a que estamos atravessando. Pois tem muita empresa que se comporta como se o franqueado fosse bobo.
O resultado? Um agravamento nos conflitos entre franqueador e franqueado, muitas vezes desaguando em complicadas, longas e dolorosas disputas judiciais. Que poderiam ser evitadas se esses franqueadores tratassem de ser mais profissionais, mantendo o foco no que realmente é o seu negócio, em lugar de querer ganhar em todas as pontas.
Podem anotar: nos próximos dois anos o número de ações judiciais envolvendo franqueadores e franqueados vai aumentar em proporções geométricas. Os advogados vão ganhar muito dinheiro com isso. E muita gente boa, até bem-intencionada, vai quebrar a cara, por falta de profissionalismo e de preparo.
Porém, acreditamos que, passada a tempestade, o franchising estará ainda mais fortalecido. Afinal, toda crise é purificadora, na medida em que facilita a tarefa de separar quem é do ramo de quem é amador ou aventureiro. Amém!

MARCELO CHERTO é diretor da Cherto & Rizzo Franchising. MARCUS RIZZO é presidente do Instituto Franchising. Os dois são professores da FGV e da Franchising University.

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