São Paulo, segunda-feira, 14 de agosto de 1995
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Organização impulsiona futebol europeu

SÍLVIO LANCELLOTTI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Enquanto o mundo gira, na inércia da rotação da Terra, a Europa segue rodando a uma velocidade monumental, mistura de engenho e de marketing. Na Europa, agora, além dos nomes e dos números permanentes nas camisas dos atletas, existem negócios de invejar um bilionário.
O Milan, por exemplo, inventou novo fardamento de viagem. Os calções e as meias permanecem brancos. As camisas, todavia, são azuis, nada a ver com as cores do time, o vermelho e o preto. As cores do clube aparecem nas mangas e nas golas, em listras finérrimas.
Uma ofensa à tradição? Não. O Milan quer ganhar muito dinheiro para pagar seus custos básicos, as despesas com os salários dos atletas, a concentração em Milanello e as viagens da equipe. Por cerca de US$ 100,00 cada unidade, o Milan já vendeu, só na Inglaterra, 18 mil das suas camisas azuis.
Descontadas as despesas da fabricação e as inevitáveis comissões, o clube de Silvio Berlusconi, o homem mais rico da Itália, com uma simples idéia, abocanhou em torno de US$ 1 milhão. Mais, graças ao fascínio que exerce em seu país, até este final de semana comercializou cerca de 50 mil carnês de venda antecipada de ingressos por assinatura nos seus jogos como mandante. Só com esse negócio, o Milan pagou o passe de Roberto Baggio, US$ 12 milhões, e garantiu estádios quase cheios na capital da Lombardia.
No futebol da Europa, tudo se resume numa palavra -organização. Os principais campeonatos do Velho Mundo definiram os seus calendários com uma comovedora antecipação. Cada país tranquilamente sabe em que dias de semana, em que sábados e em que domingos haverá jogos da sua seleção. Isso significa manter intactos os atletas, no seu preparo físico e no seu comando mental.
Claro, sobram problemas no futebol europeu. Há a dívida da federação de Portugal, que não paga salários e despesas dos árbitros desde janeiro. Na última semana, explodiu a denúncia de Jean-Pierre Papin, acusando craques do Milan de se venderem ao Olympique de Marselha antes da final da Copa dos Campeões de 93.
Falta de dinheiro e maluquices à parte, no entanto, remanesce uma constatação essencial. Estão prontinhas, faz tempo, as tabelas das eliminatórias do Europeu de seleções, da Recopa e da Copa da Uefa. Ninguém, no Velho Mundo, imagina uma tocaia na esquina.
Melhor ainda, as principais agremiações do continente, lideradas por Milan, Juventus, Bayern de Munique e Real Madrid, formalizaram um acordo primordial. Não se venderão mais direitos de televisionamento dos seus combates sem sua expressa autorização. Quando um Baggio custa US$ 12 milhões, o futebol é marketing. Impossível esquecer esse tema.
Por causa do marketing bem conduzido, dá certo, como negócio, o futebol na Europa. Na temporada 94/95, o campeonato da Inglaterra e o torneio da Itália obtiveram uma média de público na casa dos 30 mil espectadores -ou uma renda de US$ 600 mil por peleja. Caros os ingressos, US$ 20,00 por espectador?
Sim, pelos padrões brasileiros. Só que o Brasil ainda cria fricotes para vender os seus espetáculos esportivos à televisão. No mundo global de hoje, esses fricotes não representam apenas prejuízos. São crimes. E crimes que levam, inevitavelmente, ao suicídio comercial.

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