São Paulo, terça-feira, 22 de agosto de 1995 |
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Ficha técnica ;Estratégias ;Presos políticos
JAIR RATTNER
O filme ``As Armas e o Povo", que tem participação do cineasta brasileiro, trata golpe militar português Apesar de contar com 28 diretores na ficha existente na Cinemateca Portuguesa, o filme ``As Armas e o Povo", que será exibido na sexta-feira, tem uma figura principal: Glauber Rocha, atrás e na frente das câmaras. Além de participar na direção e na montagem do filme, Glauber aparece como entrevistador, recolhendo depoimentos da população, de soldados e de marinheiros em Lisboa na semana do golpe militar que trouxe a democracia para Portugal. Num filme sobre como a população reagiu ao golpe, transformando-o numa revolução, Mário Soares, Álvaro Cunhal e Glauber são quem mais aparece na frente das câmeras. O filme é um documentário de 86 minutos sobre a semana entre a revolução de 25 de abril e o primeiro de maio de 1974. Foi o primeiro dia do trabalhador comemorado em liberdade, com mais de 500 mil pessoas nas ruas de Lisboa. O número de 28 diretores surge porque o filme é o resultado de uma colagem do material existente na época. A montagem reúne desde reportagens gravadas para a televisão, em branco e preto e de baixa qualidade, até material rodado especialmente para este filme, colorido e de boa qualidade. Ficha técnica Na projeção, a ficha técnica não apresenta nenhum nome. Começa com o título do filme em letras brancas sobre um fundo vermelho, ao som da música Grândola Vila Morena, e termina com a assinatura do Sindicato dos Trabalhadores da Actividade Cinematográfica, em letras brancas, sob fundo vermelho e com a mesma música. Grândola Vila Morena, criada pelo músico português Zeca Afonso, foi tocada na rádio como senha para o começo da revolução e acabou se tornando símbolo do movimento. A música esteve censurada durante a ditadura portuguesa. Estratégias Como entrevistador, Glauber funciona como elemento de ligação entre trechos filmados por diretores diferentes. Suas perguntas são uma das estratégias usadas na montagem para marcar o ritmo dos acontecimentos políticos. Após as cenas do dia 25 de abril, Glauber questiona marinheiros que estão na rua sobre o envio de soldados para a guerra colonial, após as cenas dos dias seguintes, pergunta a soldados sobre a independência das colônias, e depois aborda pessoas nas ruas e favelas para saber se vão participar no primeiro de maio. Glauber aparece como um entrevistador agressivo e engajado. Numa favela de Lisboa, quando uma mulher responde que não vai ao comício do primeiro de maio, pergunta, enquanto a câmera mostra a pobreza em que ela vive: ``Você não acha que a situação deve mudar?" São as entrevistas que introduzem no filme as marcas do momento revolucionário. Sem elas, o filme poderia ter sido montado anos depois, a partir de material de arquivo. Presos políticos Outros acontecimentos políticos importantes registrados no filme são as imagens da libertação dos presos políticos, a chegada de Mário Soares do exílio e a manifestação do primeiro de maio. A manifestação é filmada com grandes planos, que procuram mostrar a quantidade de pessoas reunidas, e o foco individualizado nas personagens que estão no palanque, especialmente Mário Soares, o atual presidente, e Álvaro Cunhal, então secretário-geral do Partido Comunista. Mesmo estando um ao lado do outro, os dois líderes não se olham diretamente, em nenhum momento a câmara flagra uma troca de idéias entre os dois e poucas vezes os dois aplaudem juntos o mesmo orador. É um prenúncio da má convivência que os dois tiveram no governo, poucas semanas depois dessa manifestação. Entre as centenas de faixas presentes, um pequeno cartaz é o mais filmado na manifestação, aparecendo duas vezes no filme. Tem os dizeres: ``A poesia está na rua". Próximo Texto: Cineasta criou o Cinema Novo Índice |
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