São Paulo, terça-feira, 22 de agosto de 1995
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Corman atrita com Edgar Poe

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Nas adaptações que Roger Corman fez dos contos de Edgar Allan Poe convém não procurar muito por Edgar Allan Poe. Em "Muralhas do Pavor (Manchete, 21h45) estamos neste caso.
Sobretudo no episódio "Morella (os outros são extraídos de "The Black Cat e "The Facts in the Case of Mr. Valdemar), as preocupações metafísicas do escritor parecem estranhar o suporte cinematográfico. A imagética riquíssima de Poe dá lugar a outra coisa, parece se vulgarizar ao tornar-se imagem de cinema.
As adaptações das três histórias são de Richard Matheson. Mas vale a pena fixar a atenção em "Morella, onde uma mulher morre ao dar à luz sua filha. Aos poucos vemos, no conto, o espírito da mãe reencarnar na filha.
No filme, a história centra fogo no sofrimento e na tristeza de Locke (Vincent Price), que se torna alcoólatra após a morte da mulher, cujo corpo manda embalsamar.
No filme, a vulgarização é inevitável. O tecido do texto original organiza-se em torno da obsessão do homem, da qual o leitor é chamado a partilhar.
Esse veio obsessivo deixa-se esgarçar na transposição para cinema. Como se cada imagem real empobrecesse as imagens mentais que se criam na leitura do texto.
Isso não impede de assistir ao filme com prazer. Mas também é impossível não evocar "A Orgia da Morte (1964), extraído de "The Masque of the Red Death e a melhor adaptação de Poe rodada por Corman (é também, sintomaticamente, aquela na qual teve mais recursos).
No mais, o destaque negativo vai para o SBT. Primeiro, programou "Conan, o Bárbaro para hoje. Em seguida, antecipou sua exibição para a segunda-feira (ontem). Por fim, transfere-o para hoje, de novo. Não é sempre que o SBT tem um bom produto nas mãos. Não é justo tratá-lo (e ao espectador, por tabela) como uma batata quente.
(IA)

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