São Paulo, quarta-feira, 23 de agosto de 1995
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Todas as manicures têm a mesma amiga

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Se tem uma coisa que me intriga é aquela categoria de fábula que a gente já ouviu contar zilhões de vezes, mas sempre aparece um espertinho para dizer que é ele o verdadeiro e único protagonista da história.
Exemplos? Vamos lá: 1) O sujeito vai jantar na casa de conhecidos e senta no sofá. Quando os donos da casa saem da sala para buscar os canapés, o sujeito se dá conta de que sentou em cima do yorkshire do casal e o sufocou. Sem pensar duas vezes, ele atira o cachorro pela janela do apartamento. Os anfitriões passam o resto da noite procurando o cãozinho. Mandam rezar missa pelo suicídio.
2) Fulano está no carro, levando a sogra e a mulher para um casamento. De repente, bate o olho atrás do banco do passageiro e vê um sapato de salto alto dando sopa no assoalho do carro. Como fez programa na noite anterior com uma fuampa, é tomado de pânico. Assim que retoma o controle, disfarça, desvia a atenção da mulher e da sogra, agarra o sapato e o atira pela janela. Ao chegar ao casamento, a sogra, desesperada, procura, procura e não acha seu sapato. O fulano jura à mulher que a sogra está caduca, pois ele a viu sair de casa com um só pé calçado.
3) A senhora de meia-idade esbarra em Clint Eastwood no aeroporto de Londres. Ela tem certeza que o ``rapaz" é seu conhecido. Sem maiores cerimônias, se dirige ao galã de ``Dirty Harry" e diz: ``Como vai, meu filho? Mamãe melhorou do joanete? Mande um beijo para ela e outro para a tia Nancy".
Tem mais. Uma que ouço há 20 anos e que me contaram como se tivesse ocorrido em Santos, nos anos 60: a mulher está no carro fazendo com o amante o que a Divine Brown fez com o Hugh Grant. Por infelicidade do destino, o carro é abalroado por um caminhão e os dois morrem. Ele, de hemorragia, ela, engasgada. Anos depois, ao ler ``O Mundo Segundo Garp", tomei um susto. Lá estava a tal história, narrada ipsis litteris, tintim por tintim.
Será que o autor de ``Garp", John Irving, conhece futricos santistas? Ou, no mundo todo, as fábulas são sempre as mesmas -e sempre vividas pelo tio da amiga da manicure?

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