São Paulo, quarta-feira, 23 de agosto de 1995
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ACM da garoa

JOSIAS DE SOUZA

Até bem pouco, além do abdômen espetado, eram duas as semelhanças visíveis entre Antônio Carlos Magalhães e Mario Covas: ambos têm estatura mediana e safenas enterradas no peito.
De resto, pareciam diferentes em tudo. Física e ideologicamente. Disse pareciam, com o verbo assim no passado, e já me explico: o mundo financeiro encurtou as diferenças entre um e outro.
Covas passa por um processo de ``aceemização". O governador paulista repete o senador baiano. Mimetiza-lhe a estratégia. Para pôr fim à intervenção do Banco Central no seu Banespa tenta superpolitizar um problema técnico.
A metamorfose de Covas se intensificou há uma semana, quando Brasília e Bahia ainda tricotavam juntas. Ele esteve no Palácio do Planalto. Encontrou-se, fora de agenda, com Fernando Henrique.
Realizada antes do recuo estratégico do presidente no caso Econômico, a conversa deixou Covas embatucado. O mesmo governo que há meses briga para privatizar o Banespa negociava a estatização do banco privado baiano. Um contra-senso.
De volta a São Paulo, o governador tratou de encorpar o cinturão político que envolve o Banespa. Entendeu-se com deputados federais e estaduais. Obteve suporte para uma proposta que está longe de resolver as dificuldades do banco, às voltas com um buraco de R$ 12 bilhões.
Do ponto de vista do Banco Central, o melhor seria desapropriar as ações do Banespa por valor simbólico, federalizar o banco e, em seguida, privatizá-lo.
Covas quer pagar parte do débito, R$ 4 bilhões, com imóveis e patrimônio do Estado, rolar o resto da dívida com facilidades do Tesouro Nacional e recuperar o controle sobre o banco.
Fernando Henrique queixou-se, semana passada, da gritaria de ACM. Disse, em discurso, que homem público de verdade não grita. O presidente não viu nada. Se ceder ao vozeirão mavioso de Covas, aí sim saberá o que é grito.
ACM está pintado para a guerra. Acha que, se a Bahia não teve facilidades, São Paulo também não pode ter. Mas o grito do senador não é o mais importante. Algaravia maior fará o contribuinte.

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