São Paulo, quinta-feira, 24 de agosto de 1995
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Laudos revelam massacre em Rondônia

GEORGE ALONSO
ENVIADO ESPECIAL A PORTO VELHO (RO)

Os laudos dos 11 mortos no conflito na fazenda Santa Elina, em Corumbiara (Rondônia), comprovam que houve mesmo um massacre e execuções de posseiros rendidos, com tiros na cabeça, na nuca e nas costas, a curta distância e de cima para baixo -alguns estariam ajoelhados.
O conflito ocorreu na madrugada do último dia 9, quando a Polícia Militar cumpriu ordem judicial de reintegração de posse da fazenda, ocupada desde 14 de julho por 700 sem-terra.
Ontem à tarde, foram divulgados pela Secretaria de Comunicação do Governo do Estado os resultados de oito necropsias, todas de posseiros mortos.
Na segunda-feira, já haviam sido divulgados os laudos de dois policiais militares mortos (o tenente Rubens Fidélis Miranda e o soldado Ronaldo de Souza) e da menina Vanessa dos Santos Silva, 7.
Um deles, não-identificado no documento, levou 12 tiros. Seu rosto estava desfigurado, com fraturas em toda a cabeça. Um tiro atingiu seu olho direito. Seus dentes também estavam destruídos.
Algumas fraturas teriam sido provocadas por coronhadas de escopetas, avaliou um legista consultado pela Folha em Porto Velho que pediu para não ser identificado. Ele se disse "horrorizado com os laudos.
Outro posseiro não-identificado tem cinco perfurações nas costas, fratura na perna direita (não atingida por tiros), tiros no peito e no rosto dados a curta distância.
Ercílio Oliveira de Campos, 41, levou pelo menos 19 tiros. Esse posseiro, segundo o legista, pode ter sido atingido por balas disparadas por vários soldados, que parecem ter descarregado suas armas.
Em outros dois casos fica claro nos laudos que os tiros foram disparados de cima para baixo, a curta distância, na cabeça.
O governador do Estado, Valdir Raupp (PMDB), reconheceu que os laudos revelam "execuções, por perda de controle emocional da tropa. E acrescentou: "Embora o primeiro tiro tenha sido disparado pelos posseiros, um crime não justifica outro". Segundo ele, afirmou " a apuração será rigorosa e imparcial e os culpados vão ter de aparecer".
O vice-governador de Rondônia, Aparício Carvalho de Moraes, disse estar perplexo: "Estou espantado. Tinha informações de que a PM teria se defendido. É bárbaro e confesso que estou assustado".
O coronel PM Cláudio Pereira Ramos Filho, que assumiu o comando da PM na segunda-feira, disse que não iria comentar os laudos porque não os tinha recebido. "Não vi, não posso falar. Tudo será apurado pela Justiça Militar".
Ele substituiu o ex-comandante da PM de Rondônia, o coronel Wellington Luiz de Barros Silva, exonerado devido ao episódio.
Ramos disse que a Companhia de Operações Especiais (COE) não deveria ter sido chamada para atuar em Corumbiara. "Deveria ser a última força a ser chamada".
A Polícia Militar de Rondônia é subordinada diretamente ao governador. A Secretaria de Segurança só tem poder sobre a Polícia Civil.
Segundo a CPT (Comissão Pastoral da Terra), dez pessoas continuam desaparecidas.

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