São Paulo, quinta-feira, 24 de agosto de 1995
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Emenda prevê empréstimo compulsório contra consumo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A proposta de reforma tributária que o governo apresentou ontem ao Congresso permite a criação de um empréstimo compulsório para conter o consumo no país e a quebra do sigilo bancário.
Atualmente, a Constituição só prevê a possibilidade de cobrança de empréstimos compulsórios em caso de guerra, calamidade pública ou investimento público de relevante interesse.
O ministro José Serra (Planejamento) afirmou que o governo não planeja a cobrança desse tributo ``proximamente". E ponderou que não se observa agora um excesso no poder de compra da população que justificasse o empréstimo.
``Não se está instaurando agora o compulsório, e posso assegurar que não há nenhuma segunda intenção, nenhuma idéia em gestação", completou o ministro da Fazenda, Pedro Malan.
A nova possibilidade de compulsório é prevista na proposta de emenda constitucional do governo junto com o dispositivo que permite a cobrança do tributo no mesmo ano em que for criado.
Na avaliação do governo, com o atual texto constitucional, se inviabilizou, na prática, a cobrança de compulsórios. ``No passado, houve abuso, mas o abuso não tolhe o uso", defendeu Serra.
A emenda foi apresentada em entrevista coletiva, ontem à tarde, no Palácio do Planalto, pelos ministros José Serra (Planejamento), Pedro Malan (Fazenda), Nelson Jobim (Justiça) e Bresser Pereira (Administração). O texto já seguiu para o Congresso. Leia, abaixo, as principais mudanças propostas.

SIGILO BANCÁRIO
A polêmica proposta de quebra do sigilo bancário -já tentada várias vezes sem sucesso- está de volta no projeto de emenda constitucional do governo.
Dessa vez, o texto apenas abre caminho para que uma lei, no futuro, permita à Receita Federal requisitar informações sobre operações financeiras dos contribuintes.
O mecanismo, segundo o ministro Nelson Jobim (Justiça), deve ajudar no combate à sonegação e ao tráfico de drogas.

EXPORTAÇÕES
Num primeiro momento, o governo pretende estimular as exportações brasileiras por meio da isenção completa de impostos. Os benefícios fiscais também vão atingir os chamados bens de capital (máquinas e equipamentos).
Os benefícios deverão custar cerca de R$ 1,5 bilhão.

FUNDO DE COMPENSAÇÃO
Como foi combinado previamente com os governadores, os Estados serão compensados com uma fatia de mais 10% do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e toda a arrecadação do ITR (Imposto Territorial Rural), que deixará de ser cobrado pela União.
Apesar da compensação, os governadores sentirão imediatamente a perda de autonomia fiscal na administração do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), o principal imposto cobrado pelos Estados.
É que as alíquotas passarão a ser fixadas pelo Senado, de forma uniforme em todo o país por produto e serviço. Produtos da cesta terão alíquota menor.

GUERRA FISCAL
Com as novas regras, o governo espera conter a sonegação do imposto, estimulada pela chamada ``guerra fiscal" entre os Estados.
A principal mudança no sistema de impostos está prevista para vigorar apenas em 1998, último ano do mandato do presidente Fernando Henrique e dos governadores. Trata-se da transformação do IPI em uma nova alíquota do ICMS.
No texto que acompanha a emenda constitucional, os ministros Jobim, Serra e Malan afirmam que gostariam de ver fundidos, no futuro, os três impostos sobre consumo cobrados no Brasil: IPI, ICMS e o municipal ISS. Não vêem condições políticas para essa fusão hoje.
FHC adiou para a próxima semana o envio ao Congresso do projeto de reforma do Imposto de Renda das empresas.

LEIA
a íntegra da emenda à página 1-6

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