São Paulo, quinta-feira, 24 de agosto de 1995
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Amistoso na Líbia vira `trem da alegria'

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

Uma viagem de 300 atletas, dirigentes esportivos, sambistas e jornalistas brasileiros à Líbia, entre os dias 28 deste mês e 7 de setembro, vai custar US$ 2 milhões aos organizadores.
A excursão dos convidados brasileiros será financiada pelo jornal esportivo ``Dar El Ssada", editado em língua árabe, e pelo governo da Líbia.
No dia 6, a seleção brasileira de futebol enfrenta a seleção da Líbia no estádio 11 de Junho, em Trípoli.
O amistoso integra os festejos dos 26 anos da ascensão do dirigente líbio Muammar Gadafi ao poder.
A excursão dos convidados não tem ligação oficial com a presença da seleção de futebol.
A seleção brasileira não viajará com os convidados, mas em vôos de carreira -aviões que fazem a rota comercial ao país.
O editor do escritório brasileiro do ``Dar El Ssada", Carlos Morino, disse ontem no Rio que o objetivo do convite aos desportistas e jornalistas é ``cultural e esportivo".
Mas pelo menos um evento da programação mostra finalidade política no convite.
Na noite do dia 3, Gadafi recepcionará os brasileiros em uma tenda no deserto e os presenteará com tapetes persas.
A delegação será recebida com ``honras oficiais". Cada integrante receberá uma placa e uma medalha.
Os convidados não vão pagar nada pela viagem. Eles embarcam no próximo dia 28 num vôo fretado da Alitalia para a cidade de Djerba, na Tunísia.
O avião não pode pousar na Líbia devido ao embargo aéreo -proibição de pouso e decolagem de aeronaves- imposto pela ONU (Organização das Nações Unidas).
O governo líbio é acusado de envolvimento no atentado que em 1988 provocou a explosão de um Boeing 747 da Pan Am, matando 270 pessoas.
A cidade de Djerba fica a 97 km de Trípoli, para onde os convidados seguirão de ônibus.
Na fronteira da Tunísia com a Líbia, os brasileiros serão recepcionados com shows de bailarinas, passeio de camelo e pratos típicos árabes, como carneiro recheado.
Na capital líbia, os viajantes ficarão hospedados num hotel cinco estrelas à beira do mar Mediterrâneo.
``O projeto do hotel foi feito para o rei do Marrocos", disse Carlos Morino.
``Mas era tão luxuoso que ele não teve condições de o construir e a Líbia o assumiu."
Entre os atletas que até ontem haviam confirmado presença, segundo os organizadores, estão Luiza Parente , da ginástica olímpica; Torben Grael, iatismo e Ana Richa, jogadora de vôlei de praia.
Uma equipe de 15 jovens, com faixa etária variando entre 14 e 15 anos, da escolinha do ex-jogador de futebol Zico também viajará no DC 10 da Alitalia, para disputar dois amistosos na Líbia.
``Aceitamos um convite feito pelo governo líbio", afirmou um funcionário da escolinha.
Zico só não irá para Trípoli porque no mesmo período estará no Japão, onde é uma espécie de gerente de futebol do clube Kashima Antlers.
Trinta passistas da escola de samba Mangueira também viajarão. Não se sabe se haverá apresentações.
Na Líbia, há uma rígida repressão contra as mulheres.
Na emissora oficial de TV, censores riscam com caneta pernas e decotes femininos quando estes aparecem em filmes.
Dirigentes esportivos também vão aproveitar a oferta do governo líbio e do jornal árabe: diretores da Federação de Futebol do Rio vão integrar a delegação.
``Gastaremos US$ 2 milhões na excursão", afirmou à Folha o diretor do jornal ``Dar El Ssada" no Brasil, Ahmed Ramadan.
Só com o avião fretado, o gasto será de US$ 180 mil.
Ramadan afirmou que seu jornal não contém publicidade.
Segundo ele, o jornal é editado na Itália, com periodicidade semanal e tiragem de 300 mil exemplares.
O ``Dar El Ssada" é vendido nos países árabes por cerca de US$ 3,00 cada exemplar.
O diretor não soube dizer como o jornal conseguiu reunir quase US$ 2 milhões.
A participação -oficial- do governo líbio na organização do amistosos ficaria restrito aos gastos com transporte interno, alimentação e programas turísticos.

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