São Paulo, quinta-feira, 24 de agosto de 1995
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`Com violência, eu não vou'

JEAN SILVA BOSCO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Não sei se vou voltar a um estádio de futebol. Enquanto tiver violência, não vou. Na hora em que ela acabar e colocarem mais polícia, posso até ir.
Cheguei a falar para um amigo que eu queria entrar para a Independente. Aí pensei bem e falei: não, chega.
Tenho três amigos em torcida organizada do São Paulo, mas eles não me contam como é. O primeiro jogo que fui ver na vida foi São Paulo x Grêmio (semifinal da Supercopa de Juniores). Fui sossegado, na Independente, e não aconteceu nada.
Resolvi ir de novo, na final com o Palmeiras, porque meus colegas me chamaram. Pensei que não ia ter briga. Eu tinha que ir para apoiar. O São Paulo é meu time do coração e ninguém vai tirar isso de mim.
Na hora em que começou o empurra-empurra, fui parar no campo sem saber por quê. A última coisa de que eu me lembro foi a hora em que o Palmeiras fez o gol. A torcida palmeirense começou a invadir o campo e a do São Paulo também. Depois teve o empurra-empurra e quando vi eu estava fora do estádio.
Fui parar num hospital, nem sei qual. Depois tomei o ônibus errado e fui parar em Osasco. Voltei para a praça do Patriarca e peguei outro ônibus no Anhangabaú. Desci no meu bairro e desmaiei na entrada da minha rua.
Quando acordei, perguntei: ``Hoje é domingo?". Disseram que era segunda. Pensei que fosse um sonho. Depois veio um monte de repórteres. Foi legal, mas já encheu um pouco.
Vendo depois na TV, parecia que eu tinha morrido. Meu santo é forte. Mas quem bateu em mim tem que ser punido. O cara me viu desmaiado e me deu uma paulada. Tem um sangue-frio do caramba.
Disseram que o André, do São Paulo, quer me dar uma camisa. Também queria uma do Cerezo. Se eu fosse jogador, jogava até os 50, 60 anos, como ele. Quero ser jogador do São Paulo, meu destino é esse. Vou pedir para fazer um teste.
Se meus pais me deixarem ir ao estádio de novo, vão ficar preocupados. Mas se eu for a um estádio, vai ser quando tiver mais policiais e acabar a violência. Senão não vai ter mais futebol. Todo mundo vai ter que ficar vendo pela TV.

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