São Paulo, quinta-feira, 24 de agosto de 1995
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Estúdios filmaram de Caligari a Adolf Hitler

DO ``LE MONDE"

A associação cinematográfica alemã UFA desenvolveu os estúdios de Babelsberg e produziu um número excepcional de obras-primas: do ``Anjo Azul" a ``Metrópolis", de ``M" ao ``Gabinete do Dr. Caligari".
Em seguida, um general viajou para Hollywood (o leitor notará com prazer a permanência do Exército no florescimento rápido da sétima arte alemã) e voltou convencido de que o cinema falado não tardaria a eclipsar o mudo.
Um arquiteto fez as plantas em forma de cruz daquele que iria se tornar um dos melhores estúdios sonoros da Europa. Tudo foi construído em nove semanas.
Em 1930, Marlene Dietrich pôde cantar diante das câmeras e sob os olhos de seu parceiro Emil Jannings os refrões do ``Anjo Azul".
Os nazistas apoderaram-se de Babelsberg em 1938, para fazer dele o instrumento de propaganda para o qual seus predecessores haviam concebido o projeto.
Após a unificação da Alemanha, a Treuhandanstalt, a sociedade encarregada de privatizar as antigas sociedades do Estado do leste alemão, vendeu esses estúdios para a Companhia Imobiliária Phoenix, filial da Companhia Geral das Águas (CGE).
Hoje o cinema alemão está fora de moda, mas isso passará. Os intelectuais, depois da guerra, voltaram-se para as rádios e televisões. Desconfiaram do cinema, instrumento de propaganda diabólica.
Há entre os intelectuais e o cinema um amor estremecido. A redescoberta e o ressurgimento do cinema alemão serão feitos pela nova geração.
Enquanto esperamos, o artista plástico Christo conseguiu finalmente realizar seu grande projeto de embalar o Reichstag. O edifício talvez tenha saído disso exorcizado; é só o que podemos desejar.
No entanto, ele permanece como um fantasma, fragmento de espectros na cidade. A partir do momento em que o táxi ultrapassa a linha de demarcação, penetra-se numa zona surda e muda, de janelas cegas, palácios fechados, um mundo extinto e resfolegante.
Foi lá que o polonês Andrej Zulawski filmou as cenas de feitiçaria de ``Possessão", não muito longe da antiga fronteira leste-oeste, na Oranienburgerstrasse, que se encontra no Tacheles, onde Wenders projeta todos os filmes em ``avant-première".
Em Holzmarktstrasse, subsiste um pedaço do Muro de algumas centenas de metros de comprimento. Ele é pintado e repintado de alto a baixo por tantos grafiteiros magníficos que a gente se surpreende ao achá-lo pequeno.

Na próxima semana, a cidade-tema da série ``Por Dentro das Cidades do Cinema" será Paris.

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