São Paulo, sexta-feira, 25 de agosto de 1995
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Reação química causou explosão em paiol no RJ

ALEXANDRE SECCO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A explosão no arsenal da Marinha na ilha do Boqueirão (RJ) foi provocada pela combustão espontânea de amostras de pólvora, armazenadas no paiol de trânsito -aquele usado para guardar a munição retirada dos navios.
Essas amostras que queimaram seriam usadas em testes e análises de material.
Para entrar em combustão espontânea (pegar fogo sozinha), a pólvora teve contato com umidade. A umidade provocou reações químicas na pólvora, que pegou fogo e provocou um incêndio.
O efeito é semelhante ao que acontece quando se joga uma gota d'água em uma pastilha de Sonrisal -esta reage e começa a efervescer. No caso da pólvora, essa reação é muito mais lenta.
Segundo a Folha apurou, esse é o resultado do laudo que explicará as causas do acidente, ocorrido em 16 de julho passado.
O fenômeno da combustão espontânea é comum na natureza. Ocorre, por exemplo, com o fósforo branco, que incendeia ao entrar em contato com o ar.
Quando a pólvora começou a queimar, os oficiais de serviço na ilha ouviram ruídos, mas já era tarde para evitar os estragos.
O esquema de emergência foi acionado, mas não evitou que outros dois paióis (além do paiol de trânsito) fossem atingidos.
O laudo conclusivo coincide com as primeiras hipóteses levantadas para explicar o acidente.
No começo da investigação já se sabia que a origem estava no paiol de trânsito, mas suspeitava-se de que munição antiga de artilharia teria causado as explosões.
Segundo o laudo definitivo, a munição de artilharia (munição pesada, como balas de canhão) foi detonada pela queima da pólvora.
Essas detonações atingiram outros paióis, onde havia munição leve (como balas de metralhadora).
As hipóteses de atentado e de que a explosão teria sido proposital serão completamente afastadas.
Uma explicação refutará a tese de atentado: a explosão começou no paiol de trânsito, onde fica a munição pesada, que não interessa ao crime organizado.
Restaria a indagação sobre as explosões nos paióis que guardavam munição leve (para fuzis, pistolas e metralhadoras). O laudo afirmará que essas explosões ocorreram de forma imprevisível.
Ocorreria o mesmo se alguém jogasse balas de revólver numa fogueira. Elas "voariam" para todos os lados e atingiriam o que encontrassem pela frente.
Os paióis de munição leve foram atingidos pela detonação de projéteis pesados, diz o laudo.
Oficialmente, os resultados só deverão ser divulgados na próxima segunda-feira, quando vence o prazo de um mês estabelecido para elaboração do inquérito.
O ministro da Marinha, Mauro Cesar Pereira, deveria receber ontem os primeiros informes sobre as causas do acidente.

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