São Paulo, sexta-feira, 25 de agosto de 1995
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O BNDES vendo a banda passar

LUÍS NASSIF

O Brasil prepara-se para entrar em sua terceira grande onda de crescimento dos últimos 50 anos. A primeira foi nos anos 50, quando os investimentos em infra-estrutura do governo Vargas e a abertura da economia com JK permitiram ao país beneficiar-se da liberação de capitais internacionais proporcionada pela reconstrução européia.
A segunda, nos anos 70, após os ajustes econômicos do governo Castello Branco terem permitido ao país entrar na onda da extraordinária expansão do comércio internacional da segunda metade dos anos 60. Perdeu a onda da microeletrônica nos 80, abrindo espaço para o surgimento das superempresas asiáticas.
A terceira onda é agora, quando a globalização do capital permitirá às empresas brasileiras, pela primeira vez na história, o acesso a capitais de risco em igualdade de condições com empresas internacionais.
Principal instrumento financeiro dos investimentos públicos e privados desde os anos 50, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) chega sem rumo ao limiar da terceira onda desenvolvimentista.
Tem-se um volume recorde de investimentos externos sendo canalizados para o país. A reforma da Previdência criará uma estupenda poupança interna. Os bancos de negócios, que acumularam fortunas fantásticas operando no over e no câmbio, estão com enormes disponibilidades para aplicar no mundo real. A maior parte desse dinheiro deverá ser canalizada para a compra de ações de empresas, seguindo tendência mundial.

Perdido na noite
O país prepara-se para ingressar na era do capitalismo social. Ou seja, do conjunto de poupadores, reunidos em torno de fundos de pensão e de investimentos ou por meio de fundos de participação estrangeira, tornando-se os grandes captadores de investimento para a economia. Mas o banco está preso ao paradigma autárquico dos anos 50 e, desde o final dos anos 80, quando cunhou o conjunto de conceitos que balizou a abertura da economia, parece ter perdido a capacidade de pensar. Nem sequer consegue ser eficiente no velho paradigma.
Bancos de desenvolvimento regionais, que dispõem de projetos para serem financiados, praticamente não têm acesso aos seus recursos, devido aos critérios fixados. Bancos comerciais, que poderiam se habilitar a esses recursos, não têm interesse -a não ser impondo pesadas contrapartidas aos clientes.
Qualquer média empresa que queira se habilitar aos financiamentos do banco tem que recorrer a legiões de intermediários -consultores especializados em desenvolver projetos que sejam aceitos pela burocracia do banco. E, mesmo tendo o projeto, não encontram banco comercial repassador.
Preso nessa teia infindável, resta ao banco o trabalho leve e tranquilo de entregar o dinheiro do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) a quem não precisa disso. Tem graça um banco de fomento financiar uma cervejaria que pertence ao banco de negócios que administra as maiores carteiras de investimento do país? Ou alocar US$ 100 milhões a uma siderúrgica que poderia muito bem captar recursos no mercado?
O papel atual do banco, de emprestador de recursos de longo prazo, é anacrônico. Nos próximos meses, haverá abundância inédita de recursos sendo canalizados para as empresas por meio do mercado de capitais. Ele tem que ter papel indutor de investimentos, valendo-se de seu enorme conhecimento setorial e de empresas para atuar como gestor ou consultor de fundos privados.
Por outro lado, a grande carência atual no país é de um organismo que financie as exportações -fator essencial dentro de um esquema de comércio exterior competitivo.
Em vez de dar presentes com dinheiro do trabalhador, o banco deveria se ocupar em atrair recursos externos, de organismos multilaterais e instituições financeiras internacionais, para alavancar sua posição de ``eximbank" brasileiro.
É um enorme desperdício para o país o papel atual irrelevante que está sendo conferido ao corpo técnico do banco.

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