São Paulo, sexta-feira, 25 de agosto de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Jornal que apóia Menem anuncia saída de Cavallo

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

O jornal argentino ``Expreso" anunciou, em sua edição de ontem, que o presidente Carlos Menem espera apenas até o mês que vem para dispensar seu ministro da Economia, Domingo Cavallo.
O ``Expreso" foi criado durante a campanha eleitoral deste ano pelos grupos que apóiam Menem, o que indica tratar-se de mais um lance da conspiração de setores menemistas contra o ministro que, como o presidente, simboliza o plano de estabilização econômica.
Cavallo ficou até 4h da madrugada de ontem depondo no Congresso, no qual acionou uma autêntica metralhadora giratória.
Antes, o ministro havia denunciado a existência de ``uma máfia infiltrada no governo".
Cavallo deu nomes que vão de um juiz a vários jornalistas. Mas centrou fogo no misterioso empresário Alfredo Yabrán, dono de empresas privadas de correios.
O ministro não poupou nem sequer um dos mais veteranos jornalistas argentinos, Bernardo Neustadt, governista empedernido, seja qual for o governo, na democracia ou na ditadura. No dia em que Menem foi reeleito, em maio, trocou um brinde ao vivo com o presidente, em seu programa de TV.
A ofensiva de Cavallo tem uma explicação política. O ministro sentiu que estava sendo ``fritado" por pessoas próximas ao presidente. Em vez de cair ingloriamente, preferiu sair ao ataque.
Se Menem não puder demiti-lo, se fortalece mais ainda. Na hipótese inversa, deixa o governo como campeão da anticorrupção.
Em qualquer dos casos, aplaina o caminho para ser o candidato presidencial em 1998, motivo da conspiração contra Cavallo.
Como Menem não pode ser candidato (a Constituição não permite segunda reeleição), está aberto o campo para os aspirantes.
Um é o governador da Província de Buenos Aires, Eduardo Duhalde, populista clássico e, por isso mesmo, crítico natural das políticas de Cavallo. O outro é o vice-presidente Carlos Ruckauff, também populista.
Mas Cavallo não está isolado. O embaixador norte-americano em Buenos Aires fez questão de visitá-lo, como sinal ostensivo de apoio de seu governo e da comunidade financeira internacional.
O governo brasileiro também encararia como tragédia um desenlace traumático para a crise em torno do ministro: se Cavallo cair já, tende a ressurgir a turbulência nos mercados latino-americanos que se seguiu à crise mexicana.

Texto Anterior: O BNDES vendo a banda passar
Próximo Texto: Situação é normal, diz ministro
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.