São Paulo, sexta-feira, 25 de agosto de 1995 |
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Tumor e tumores
CARLOS HEITOR CONY RIO DE JANEIRO - Não sei qual é o gênio que elabora a estratégia de comunicação do presidente da República. Volta e meia ele reclama que houve falha no setor. Ou seja: ele nunca falha; quem falha é a comunicação do governo.Durante a campanha eleitoral surgiu uma acusação contra o candidato oficial, coisa menor, escritura subvalorizada para diminuir a carga fiscal, pecado que 90% dos brasileiros em condições de fazer escritura costumam praticar. Mesmo assim, lançada na boca de lobos famintos, a denúncia podia levar a investigações que, na melhor das hipóteses, resultariam em constrangimento para o candidato e seu sócio, o atual ministro Sérgio Motta. Na ocasião, a estratégia foi abafar o caso na mídia, criando fatos novos que afogassem a denúncia. Foi dito oficialmente pelo governo de então: ``O caso só terá desdobramento se houver repercussão na mídia". Não houve repercussão. Lembro esse episódio do ano passado a propósito do Banco Econômico. O presidente da República, que saiu chamuscado da fogueira, iniciou a semana lançando a estratégia de sua defesa: minha gente, o assunto acabou, virou nhenhenhém, não se deve perder tempo com ele, devemos pensar no futuro, temos um Estado para redesenhar, o povo passa fome, vamos trabalhar de olhos voltados para o porvir, o que passou passou. A esperança do governo é de que a mídia esqueça o passado, como se se tratasse da Primeira Guerra Púnica, da Batalha das Termópilas, dos ossos de Dana de Teffé. Já se sente na mídia mais comprometida com o neoliberalismo a tendência de empurrar o caso do Econômico para a mais remota antiguidade, para um período anterior à conquista das Gálias e ao tempo em que o senador Espiridão Amin tinha cabelos. O desembaraço do presidente chega a parecer cinismo. O estouro do Econômico escancarou a metástase que se instalou no organismo bancário. Banespa e Banerj são tumores graves, mas benignos: basta o Estado pagar o que deve e não haverá tumor. Com o Econômico o tumor é maligno. Pode ser fatal. Texto Anterior: O ambiente mudou Próximo Texto: Onde mora a Federação? Índice |
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