São Paulo, sexta-feira, 25 de agosto de 1995 |
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O ambiente mudou
JOSIAS DE SOUZA BRASÍLIA - Fernando Henrique mal tomara posse e a CUT já estava em pé de guerra. Era automático: não havia viagem nacional em que o presidente não fosse hostilizado por uma claque do braço sindical do PT.Na ausência de razões objetivas que justificassem a implicância, desmoralizaram-se a CUT e o sagrado instituto da manifestação de rua. Resultado de uma mistura de oportunismo com ressentimento eleitoral, os protestos de proveta levavam ao asfalto manifestantes tão empolgados quanto o meio-fio. Faltava à CUT uma boa causa. Um mote mais comovente que o insosso discurso contra o neoliberalismo de Brasília, mais empolgante que os ataques vazios às reformas constitucionais. Hoje, a situação é bem outra. A CUT está longe de conseguir o que deseja: um ambiente à São Petersburgo de 1917. A massa não se encontra a ponto de invadir o Palácio de Inverno. Mas acumulou-se boa quantidade de pólvora no paiol. O bastante para produzir algum barulho. O curioso é que o fornecedor da munição que começou a explodir ontem, no Paço Municipal de São Bernardo, é o próprio Fernando Henrique. O presidente e seu governo deram de presente à CUT o mote que buscava desde janeiro. O desaquecimento da economia começa a pôr em ebulição o sangue da sociedade. Em abril, em uma das pseudomanifestações patrocinadas pela CUT, uma mulher desenrolou em Brasília faixa com a inscrição ``Fora FHC". A frase foi lida como sentimento pessoal de uma militante desvairada. Hoje, os dizeres já arrancam aplausos de platéias específicas. Experimente-se abrir a mesma faixa diante dos metalúrgicos demitidos na região do ABC, dos correntistas do Banco Econômico ou dos micro e pequenos comerciantes sufocados pela política monetária da equipe de Pedro Malan. O governo não é nenhum trapo, mas também já não está novo em folha. Passada a fase da lua-de-mel, Fernando Henrique começa a enfrentar o desgaste de todo governante. Aconselha-se que pare de dizer que é fácil governar o Brasil. Alguém pode se zangar. Texto Anterior: Perdoem a falha (dele) Próximo Texto: Tumor e tumores Índice |
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