São Paulo, sábado, 26 de agosto de 1995
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CNBB cobra mais atenção para área social

FERNANDO MOLICA
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), d. Lucas Moreira Neves, 69, cobrou do governo uma atuação mais efetiva na área social.
Em entrevista coletiva, ontem, em Brasília, ele afirmou que a estabilização econômica tem de ser acompanhada de ``maior sensibilidade para as urgências sociais".
D. Lucas elogiou a estabilização da moeda, mas, segundo ele, não basta dizer que o país ficou livre da inflação. ``É preciso melhorar a distribuição de renda e resgatar a cidadania", afirmou.
Ele defendeu a necessidade de uma reforma agrária. Chegou a dizer que houve um ``retrocesso" na implementação de uma política de distribuição de terras. ``Pode-se falar em retrocesso, porque hoje se faz menos do que já foi feito alguns anos atrás", declarou.
O presidente da CNBB manifestou também sua discordância com aspectos do ``Grito dos Excluídos", manifestação organizada pela Pastoral Social da entidade que ocorrerá em diversas cidades brasileiras no dia 7 de setembro -Dia da Independência do Brasil.
A maior manifestação deverá ocorrer em Aparecida (SP), onde os organizadores do protesto pretendem reunir cerca de 100 mil pessoas.
A Pastoral Social é dominada pelos chamados ``progressistas", bispos e padres que enfatizam a necessidade de mudanças sociais e que, ao longo dos últimos anos, tiveram uma série de divergências com integrantes do grupo mais ligado à política do Vaticano, entre eles, d. Lucas.
Dizendo falar em nome da direção da CNBB, d. Lucas disse temer que a manifestação seja ``instrumentalizada, manipulada, adulterada e sequestrada" por ``grupos, organismos ou partidos que não tenham a nossa sensibilidade nem nosso objetivo".
Durante a reunião do conselho permanente da CNBB, encerrada ontem, outro arcebispo, d. Eugênio Sales (RJ), disse que não participaria do ``grito" por causa da participação de entidades como a Central Única dos Trabalhadores.
Segundo d. Lucas, sindicatos eventualmente presentes ao ``grito" deveriam abster-se de levantar suas bandeiras.
Isso porque, de acordo com ele, a origem do ``grito" é uma manifestação ``altamente religiosa", a Romaria do Trabalhador, realizada desde 1987, a cada 7 de setembro, em Aparecida, principal centro de romarias dos católicos do Brasil.
Ele afirmou que, pessoalmente, fazia objeção à data escolhida para a manifestação, que incluirá, em sua parte religiosa, bênção a panelas vazias.
D. Lucas procurou ressaltar que o ``grito" é ``uma manifestação a favor, a favor da vida" e não um ato contra o governo -a crítica à política econômica do governo, classificada de ``neoliberal", é um dos pontos da manifestação.
O presidente da CNBB disse que não vai organizar nenhuma manifestação relacionada ao ``grito" em sua arquidiocese, a de Salvador (BA).

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