São Paulo, sábado, 26 de agosto de 1995
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Diretor do DNC deixa governo sob suspeita

CARI RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O diretor do DNC (Departamento Nacional de Combustíveis), Paulo Motoki, pediu demissão do cargo ontem, em caráter irrevogável.
Ele está sob suspeita de trocar informações privilegiadas com a iniciativa privada e de ter um amigo pessoal sem remuneração do governo o assessorando dentro do Departamento Nacional de Combustíveis.
Motoki admitiu ao deputado Luciano Zica (PT-SP), durante audiência na Comissão de Minas e Energia da Câmara na quarta-feira, que estava discutindo com o amigo Fernando Grandinetti a reestruturação do futuro órgão que vai regular a distribuição de petróleo no Brasil.
Grandinetti é consultor da Shell e conhecido, em Brasília, como lobista da empresa -ou seja, defensor dos interesses da Shell junto a parlamentares e membros do Executivo.
O DNC é subordinado ao Ministério de Minas e Energia e tem a atribuição de fiscalizar as distribuidoras de combustíveis, discutir as margens de lucro, abastecimento e preços ao consumidor.
A Shell é uma das empresas fiscalizadas pelo DNC.
A demissão de Motoki, apresentada ao ministro Raimundo Brito (Minas e Energia) na madrugada de ontem, está sendo comparada ao ``caso Dallari".
Na semana passada, o secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, José Milton Dallari, se afastou do cargo sob suspeita de repassar informações privilegiadas à iniciativa privada e trazer para dentro do governo amigos sem função ou remuneração definida.
Roberto Melo, amigo de Dallari, se apresentava como funcionário do Ministério da Fazenda e indicava pessoas para serviços de consultoria na área de saúde usando sua proximidade com o governo.
O ex-diretor do DNC disse que a sua demissão foi motivada por ``problemas de foro íntimo". Ele afirmou que não ``vale a pena trabalhar sob pré-julgamento".
Anteontem, Motoki havia dito à Folha que Grandinetti é seu amigo pessoal desde 1980. Grandinetti é funcionário aposentado da Shell desde dezembro de 1992, se apresenta como economista e administrador de empresas e tem uma consultoria econômica -a Flash Assessoria, com sede no Rio de Janeiro.
Ele ficou hospedado na última terça e quarta-feira no Manhattan Flat, um dos mais sofisticados de Brasília.
A reserva foi realizada pela Shell do Brasil e as despesas serão pagas pela distribuidora, conforme a fatura número 23.844, no valor de R$ 345,88.

Novo diretor
O novo diretor do DNC já foi escolhido. Será Ricardo Pinheiro, 48, engenheiro. Atualmente, Pinheiro é assessor especial do ministro Raimundo Brito. O ministro lamentou a demissão de Motoki, segundo sua assessoria.

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