São Paulo, domingo, 27 de agosto de 1995 |
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Reforma deve triplicar investimentos em 95
ANTONIO CARLOS SEIDL
Essa avaliação foi feita por Henrique de Campos Meirelles, presidente da Câmara Americana de Comércio de São Paulo e do Banco de Boston. Meirelles estima, porém, que a isonomia entre empresas nacionais e estrangeiras pode triplicar (de US$ 1 bilhão, em 94, para US$ 3 bilhões) os investimentos estrangeiros no país este ano. A emenda constitucional promulgada na terça-feira passada pelo Congresso Nacional elimina o artigo 171 da Constituição de 1988, que diferenciava empresa brasileira de empresa brasileira de capital nacional e dava tratamento favorecido às empresas brasileiras de capital nacional. ``O fim da discriminação é vital para a volta dos investimentos", afirmou Meirelles à Folha. ``A volta de investimentos maciços depende, porém, de novas quedas na inflação, da eliminação do custo Brasil e do déficit público." Para Meirelles, os investimentos estrangeiros podem chegar a US$ 6 bilhões, nos próximos 12 meses, caso esses obstáculos sejam também removidos. O ``custo Brasil" é uma expressão que designa o conjunto de obstáculos que encarecem o investimento, a produção e a distribuição de bens e serviços no país. Entre eles, juros altos, custo elevado da mão-de-obra, portos e infra-estrutura deteriorados e alta carga tributária. Meirelles acredita que a eliminação do ``custo Brasil" e as privatizações podem reverter o declínio dos investimentos diretos estrangeiros no país. Meirelles, analisando um estudo inédito da Câmara Americana de Comércio, atribui o declínio dos investimentos no Brasil à Constituição de 1988. A participação do Brasil no total dos investimentos estrangeiros diretos no mundo caiu de 2%, em 1988, para 0,7%, em 1994. A participação do Brasil no total dos investimentos estrangeiros nos países em desenvolvimento caiu de 11%, em 1988, para apenas 0,9%, no ano passado. O estudo mostra que o fluxo dos investimentos diretos nos países em desenvolvimento tem crescido muito, de 20% na década de 70 para 42% no ano passado. Mas a participação do Brasil, que nas décadas de 70 e 80 situava-se na faixa de 5% a 7%, está cada vez menor. ``A queda importante se deu justamente a partir da promulgação da Constituição de 1988, quando a participação do Brasil começou a diminuir sistematicamente", disse. Meirelles já vê, com a eliminação do art. 171, muita movimentação para investimentos no Brasil. Ele compara a volta dos investimentos estrangeiros à decisão de um fumante inveterado, que também bebe muito e não segue uma dieta equilibrada, de abandonar somente o hábito de fumar. ``Esse indivíduo pode achar que diminuiu a zero, da noite para o dia, os riscos de sofrer um ataque cardíaco fatal, o que, evidentemente, não é verdade." Para ele, a situação é similar no caso dos investimentos estrangeiros. O Brasil, o fumante da parábola, parou de fumar (eliminou as restrições ao capital estrangeiro), mas ainda é gordo (déficit público) e não faz exercícios físicos (o ``custo Brasil"). Texto Anterior: General quer reconhecimento a militares Próximo Texto: Omissão é escandalosa, diz Human Rights Índice |
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