São Paulo, domingo, 27 de agosto de 1995
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Escola tem quatro professoras e dois burros

MARIO CESAR CARVALHO
DO ENVIADO ESPECIAL

As professoras dos kalungas têm um regime especial de trabalho para suportar o isolamento: ficam na escola durante dois meses e nos dois meses seguintes voltam para uma das cidades próximas.
``Ninguém aguenta ficar aqui o ano inteiro", diz Maria de Fátima Tebas, 22, uma das quatro professoras da Escola Estadual Reunida Kalunga 2. O Estado mantém outras duas escolas na região. As professoras ganham R$ 300,00 ao mês.
Para chegar à escola, Tebas gasta sete, oito horas em lombo de burro. Dois burros são da escola.
Os alunos estudam numa espécie de cartilha bilíngue, criada pela antropóloga Mari Baiocchi. Numa página aparece a fala dos kalungas e ao lado está a versão para o português (leia no quadro).
``A cartilha é uma aberração para uma comunidade negra. Branco é bonito, e negro é feio nela", diz Ivana Leal, 28, do Movimento Negro Unificado em Goiás. Ela ataca uma música sobre um rapaz que armou uma arapuca ``pra pegá moça bunita e também muié casada", mas ``pegô um baita d'um negão".
Baiocchi diz que não há preconceito algum em chamar um kalunga de ``negão". ``É a forma como eles se tratam."
(MCC)

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