São Paulo, domingo, 27 de agosto de 1995 |
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Onda de desemprego traz desafios ao Real
ANTONIO CARLOS SEIDL
``As montadoras começam a demitir e isso cria um efeito cascata em toda a cadeia automotiva", afirma Horacio Lafer Piva, diretor do Departamento de Pesquisas da Fiesp, temendo que a ``cascata" se espalhe para toda a indústria. A crise do desemprego já atinge dois terços da indústria paulista. De janeiro até a segunda semana de agosto, o saldo do nível de emprego (diferença entre admissões e demissões) é negativo em 30 dos 46 ramos industriais do Estado. Os segmentos de calçados de Franca, fiação e tecelagem e mármores e granitos estão na frente na lista dos segmentos industriais que mais fecharam postos de trabalho este ano, segundo pesquisa da Fiesp (ver quadro nesta página). A Fiesp calcula que a terceira semana de agosto (14 a 18) será a décima sexta semana consecutiva de queda do nível de emprego. Os resultados serão divulgados pela entidade nesta segunda-feira. Se confirmada essa expectativa, a taxa acumulada nos últimos 12 meses de Plano Real, que registra, no momento, um frágil aumento de 0,28%, ficará negativa. Carlos Eduardo Moreira Ferreira, presidente da Fiesp, atribui a onda de desemprego à instabilidade provocada pelo desaquecimento da economia brasileira, iniciado no segundo trimestre deste ano. Ele diz que na raiz da retração da oferta de empregos na indústria está a falta de dinheiro para capital de giro e investimentos. Os bancos, reclama, não estão liberando os recursos do Finame (Agência Especial de Financiamento Industrial) do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). ``O quadro do emprego continuará negativo até que o governo permita a redução significativa dos compulsórios e a queda da taxa da juros de uma forma mais expressiva, porque, apesar de terem caído um pouco, continuam em patamares intoleráveis". Horacio Lafer Piva vê um fenômeno ``perverso" no quadro do emprego industrial. Ele afirma que a indústria paulista não está conseguindo criar empregos na mesma proporção que demite. ``Há rigidez para cima e flexibilidade para baixo, porque cada vez que as empresas demitem elas aprendem como sobreviver com menos funcionários", afirma. Segundo Piva, depois do círculo virtuoso do crescimento o país vive o círculo vicioso da estagnação: ``Menos empregos é menos consumo, menos consumo é menos produção, menos produção é menos investimento, menos investimento é menos emprego". ``O governo tomou medidas muito fortes na área de política monetária porque não quis encaminhar antes o projeto de ajuste fiscal e não pôde fazer as reformas constitucionais que fariam com que ele pudesse de alguma forma se desvencilhar das algemas da Constituição de 1988", diz. Segundo Piva, o governo deveria ter andado mais rápido na reforma constitucional e implantado um ajuste fiscal no início do ano. ``Não fez e teve que lançar mão de uma política monetária que jogou o juro lá em cima, aumentou o compulsório, enxugou o dinheiro do mercado e criou uma enorme seletividade do crédito, gerando quebradeira, inadimplência e desemprego". Piva não culpa, porém, o governo FHC pela lentidão das reformas e do ajuste fiscal. O país, diz, é refém de um processo de transição complicado. ``O problema do governo é que há uma correlação de forças no Congresso que dificulta muito o processo de negociação." Texto Anterior: Ricupero volta como secretário-geral da Unctad Próximo Texto: Franca é líder nas dispensas Índice |
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