São Paulo, domingo, 27 de agosto de 1995
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As coisas em seu devido lugar

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

Em minha opinião -opinião de engenheiro com 28 anos de trabalho como analista no mercado financeiro-, a forma mais correta de se avaliar o estoque da dívida pública federal sujeita às taxas de juros do mercado é considerar o volume de títulos do Tesouro em mãos do setor privado -em março deste ano R$ 40,9 bilhões- e o passivo não-monetário ajustado do Banco Central -R$ 42 bilhões na mesma data.
No passivo não-monetário do BC estão incluídos os títulos de sua responsabilidade -excluídos os utilizados na operação de troca de lastro com os Estados- e os compulsórios das instituições financeiras -excluído o relativo aos depósitos à vista dos bancos comerciais e que faz parte da chamada base monetária.
Em fins de março deste ano, a base monetária era de R$ 15,7 bilhões e o passivo não-monetário ajustado de R$ 42 bilhões. O passivo oneroso do conjunto Tesouro/BC era de R$ 82,8 bilhões. Isso representa cerca de 14% do PIB.
Definido o estoque de dívida onerosa, a questão agora é estimar o custo de juro médio ao longo dos últimos 12 meses. A primeira questão é a escolha entre o juro nominal -que incorpora a inflação- e o juro real acima da taxa de inflação.
Defendo que o critério relevante, quando se tem uma inflação alta como a do primeiro ano do Real, é o dos juros pagos acima da inflação. Vamos adotá-lo para efeito de nossa análise, escolhendo o índice da Fipe como medida de inflação.
Nesse critério, os títulos emitidos pelo Tesouro em mãos do setor privado pagaram nos últimos 12 meses um juro acima da inflação Fipe da ordem de 23% ao ano. Já o passivo não-monetário do BC, considerando a remuneração de cada um dos seus itens, custou ao BC no mesmo período 11,2% acima da inflação.
Compondo essa taxa com a remuneração paga pelos títulos emitidos pelo BC -23% de juros reais- chegamos a um custo médio de 18%.
Compondo essa taxa com o custo dos títulos federais em mercado, chegamos a um custo médio de Fipe + 20,5% para o estoque de dívida onerosa. Ou seja, uma conta anual de juros de R$ 17 bilhões, que representam cerca de 2,8% do PIB.

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