São Paulo, domingo, 27 de agosto de 1995
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Moradores resistem a abandonar região

RODRIGO AMARAL
DA REPORTAGEM LOCAL

Se o mercado está animado com a idéia de remover a favela do Jardim Edith, está difícil convencer os moradores a aceitá-la.
Eles não querem sair do Brooklin, cuja excelente infra-estrutura proporciona boa qualidade de vida até para os favelados.
A primeira opção apresentada pela prefeitura e empresários para a mudança (um conjunto residencial na rua do Barro Branco, em Guaianazes, na zona leste) aumentou a desconfiança dos moradores.
Lá, a urbanização ainda é bastante precária. A estação de metrô mais próxima -Itaquera- fica a mais de 15 km de distância.
``Para ir a um supermercado de ônibus, a gente demoraria mais de 40 minutos", conta José Soares de Oliveira, presidente da associação dos moradores da favela.
A solução pode ser a compra de um terreno no Jardim Educandário (zona oeste). De qualquer forma, porém, o desalojamento dos moradores do Jardim Edith é iminente.
A favela fica no caminho da avenida das Águas Espraiadas, que terá 4,5 km de extensão e vai ligar a marginal Pinheiros, no Brooklin, à avenida Washington Luís, no Campo Belo (zona sul).
``A avenida vai precisar de 80% da área ocupada pela favela", diz Ricardo Coelho, assessor especial da Secretaria Municipal da Habitação (Sehab).
A empreiteira OAS é a responsável pelas obras da nova avenida na região do Jardim Edith. A empresa também construiu o World Trade Center, complexo empresarial que fica ao lado da favela.
Quem não aceitar a proposta de mudança que será definida terá a opção de vender o seu barraco para a prefeitura por R$ 1.500.
Os moradores acham que é pouco dinheiro. ``Tem gente que aceitou os R$ 1.500 e hoje vive embaixo da ponte dos Bandeirantes", assegura José Soares de Oliveira.
``A soma é determinada por lei e não podemos aumentá-la", contrapõe Ricardo Coelho, da Sehab.
O que os moradores preferem, na verdade, é ficar na região.
O comerciante Otávio Nascimento, 66, mora há 26 anos na região e tem uma venda de bebidas na favela e sua mulher trabalha como empregada doméstica em prédios das imediações. Com a mudança, a família pode ficar sem as duas fontes de renda.
``Vamos ter de viver com os R$ 100 que recebo todo mês de aposentadoria."

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