São Paulo, domingo, 27 de agosto de 1995
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A culpa dos aposentados; Lamento pernambucano; Imagem distorcida; Lição de casa; Multidão incômoda; O Pateta é nosso; Jornalismo cultural; Contra o preconceito

A culpa dos aposentados
``FHC dispara agora contra aposentados. Estranho que, em um país cuja pirâmide etária está em expansão -poucos idosos e muitos jovens-, os aposentados já constituam problema. Alguma coisa deve estar tremendamente errada e, se há casos violentos de distorção na concessão de benefícios, que não se responsabilize o conjunto de trabalhadores aposentados. O problema real está sim na taxa pequena de população empregada e, portanto, contribuinte, e nas distorções do sistema de arrecadação. Os remédios para ambas as coisas FHC conhece."
Mayda A. Zanirak (Assis, SP)

Lamento pernambucano
``No episódio da intervenção no Banco Mercantil de Pernambuco ficou uma mancha negra na mente do povo pernambucano, cuja marcha é indestrutível. Se não, vejamos: só agora os `nossos' representantes na Câmara e no Senado estão se movimentando, em uma prova inconteste de que eles nunca participaram ou se preocuparam com as coisas do meu Estado. A inércia parlamentar é grande, a falta de empenho é monstruosa e os nossos deputados e senadores são omissos. Pernambuco está só. O povo do meu Estado é órfão. Esse é o quadro deplorável e de abandono que se instalou no Leão do Norte."
Nivaldo Elói (Recife, PE)

Imagem distorcida
``Sou um cidadão brasileiro que atualmente vivo e trabalho na Espanha. As notícias que chegam por jornais ou televisão normalmente dão um ponto de vista distorcido, catastrófico do Brasil. Hoje uma chacina de meninos em São Paulo, amanhã uma explosão no Rio, favelas, Carnaval e violência. Se até os próprios brasileiros têm dificuldades em entender o seu país (como é o meu caso), os europeus se assustam e não entendem absolutamente nada. Lamentavelmente, não acredito que essa caricatura do Brasil possa mudar em pouco tempo. A única coisa que podemos fazer, eu e tantos brasileiros que vivemos no exterior, é tentar abrir os olhos daqueles que querem conhecer melhor esse nosso imenso, contraditório e maravilhoso país. E existem muitos que têm uma curiosidade autêntica e só acreditam nas notícias recebidas aqui por falta de melhor informação."
Fernando Losada Torres (Madri, Espanha)

Lição de casa
``O professor-presidente Fernando Henrique Cardoso anuncia a intenção do governo brasileiro de alojar em nosso território 5.000 refugiados da ex-Iugoslávia desde que Estados da Federação se disponham a aceitá-los. É um gesto de solidariedade humana que nós, brasileiros, devemos considerar, tendo em vista que, no período do vergonhoso regime militar, outros países também abriram as portas para nossos exilados, como a França, que recebeu nada menos que 15 mil patriotas. O professor-presidente esquece de nossos `refugiados' brasileiros, os milhões de miseráveis que não têm para onde ir, os sem-teto, os sem-terra, os meninos de rua e os idosos jogados à própria sorte. Indagamos ao professor-presidente e, de quebra, ao valente deputado petista Nilmário Miranda (PT-MG), presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Câmara Federal: onde alojar nossos `refugiados' da guerra insana que a elite dominante trava contra as minorias no campo e na cidade? Vamos, sim, receber de braços abertos nossos irmãos refugiados de uma guerra étnica sem sentido na ex-Iugoslávia, até por dever de cristão que somos. Mas, antes, vamos cobrar do professor-presidente que dê exemplo e faça o dever de casa."
Izaias Luiz Cassimiro, presidente do Sindicato dos Rodoviários de Brasília (Brasília, DF)

Multidão incômoda
``Desde a invasão dos nordestinos sofremos com a metamorfose ocorrida à nossa volta. Os costumes e educação desse povo migrante, sem querer generalizar a todos, nos assustam. A sujeira e a falta de higiene espalhada nas calçadas pelos vendedores de quinquilharias, pastéis, caldos de cana, alimentos diversos não têm limites. No metrô e nos ônibus nos espremem, nos cutucam, nos maltratam, nos ofendem e nos ameaçam. E, por serem maioria, também nos discriminam. Esquecem-se que, para mantê-los aqui, pagamos IPTU majorado injustamente. Nossos governantes não perceberam tudo isso. Permitiram que os políticos e coronéis nordestinos ampliassem suas fronteiras e latifúndios, expulsando seus conterrâneos para São Paulo. Sobrou-nos o ônus dessa migração. Observamos nossos amigos, familiares que nos acompanharam desde a infância, mudando-se da cidade para qualquer outra, desde que não tenha migrantes nordestinos. Para o inferno a conversa mole de dizer que isso é discriminação étnica, pois a tendência é piorar. Mas, não se preocupem, pois, assim que aumentar o êxodo paulistano, muitos imóveis ficarão vazios e inutilizados, os valores venais irão diminuir. E os paulistanos de amanhã já não serão mais os mesmos paulistanos de outrora que, por se sentirem `órfãos', mudaram-se da maior `capital nordestina' do país que se chama São Paulo."
João Carlos Capotorto (São Paulo, SP)

O Pateta é nosso
``Surpreendi-me, na edição de 17/8, com a notícia de que o governo do Distrito Federal pretende abrigar uma filial do parque de diversões norte-americano Disneyworld. A decisão não poderia ser mais acertada: além dos nossos ``Irmãos Metralha" deterem a mais alta tecnologia no assalto à caixa-forte nacional, possuímos incontáveis `ratazanas' candidatas a `Mickey' e farto material humano com vocação histórica para `Pateta'. A nós, impotentes telespectadores dessa Disneilândia tupiniquim, restaria ``pagar o Pato Donald'. Alexandre Correa Lima (Cruzeiro, SP)

Jornalismo cultural
``Excelente e oportuno o artigo `Contra o jornalismo selvagem', de José Geraldo Couto, no Mais! de 20/8. Gostaria de contribuir com sua reflexão acrescentando dois pontos: 1) a questão do furo ou da exclusividade parece ter origem na contaminação do jornalismo cultural pelo jornalismo que cobre as chamadas `hard news'. Desde sua origem mais remota os livros foram escritos para perpetuar idéias e visões de mundo. Seu caráter perene difere da fugacidade da página jornalística voltada exclusivamente para o dia-a-dia. Assim, um livro pode e deve ser enfocado por um jornal ainda que meses depois de seu lançamento. 2) A voracidade pelo furo e pelo exclusivo parece pautar-se por um critério narcisista e errôneo, o qual supõe, por exemplo, que todo leitor da Folha é também leitor do `Jornal do Brasil' ou de `O Globo'. Desse modo, um livro que se torne capa do `Idéias' tem pouquíssimas chances de se tornar conhecido por um leitor hipotético da Barra Funda, que jamais pisou no Rio e nem sequer ouviu falar do JB, ou de um leitor de Cascadura que raramente folheia os matutinos paulistas."
Antonio Carlos Olivieri (São Paulo, SP)

Contra o preconceito
``Não me lembro, no momento, ter lido nada tão radical e repugnante que me levasse a contestar formalmente. Enquanto ficamos indignados com a `censura' aos Paralamas do Sucesso e defendemos toda a liberdade de expressão, não quero dizer que seja tão suportável observar o editor André Forastieri, em sua coluna `O rock é e sempre foi coisa de bicha, por definição' (Folhateen, 31/7, pág. 6-5), disseminar o preconceito em todos os seus níveis. Não sou bicha, mas é desprezível nos entregarmos ao conformismo. Sou negro e luto contra esses preconceitos, no mínimo hipócritas, principalmente no Brasil, em que sua massa absoluta é composta de negros, índios, mestiços, entre outros que tonificaram a atual população. Ainda que o autor possua a mais legítima liberdade de expressar-se, é indignante ler tamanha incitação à complacência, ao conformismo, em um país já tão racista."
Valteir Pereira dos Santos (Campo Grande, MS)

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