São Paulo, domingo, 27 de agosto de 1995
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Ozzy, o monstro insano

ANA BAN

Nos 70, Ozzy Osbourne entrou para a história do rock com a banda Black Sabbath. Nos 80, virou folclore ao matar um morcego a dentadas durante um show. Nos 90, aos 46, esse inglês batizado John Michael Osbourne jura ter trocado álcool e drogas por ginástica. Hoje, o pai do heavy metal -estilo de rock com influência de blues, guitarras distorcidas e bateria pesada- está confuso diante dos novos gêneros musicais. Só escuta "música velha" e ainda faz muito barulho -tanto que teve que mudar-se para uma fazenda, sem vizinhos. Nesta sua segunda passagem pelo Brasil (a primeira foi há dez anos, no Rock in Rio), ele promete transformar-se em uma "criatura da noite" quando subir ao palco no sábado, 2 de setembro, encabeçando o elenco do Philips Monsters of Rock, no estádio do Pacaembu, em São Paulo. No dia 6, ele canta no Metropolitan, Rio. Ozzy falou à Revista da Folha por telefone, de um quarto de hotel em Los Angeles, onde ensaiava para uma grande turnê pela América Latina. Aproveitou para esclarecer que nunca foi satanista, "apenas insano".

Você acompanha o trabalho atual do Black Sabbath?
Não. A banda é como uma ex-namorada: desejo tudo de melhor para ela, mas tenho minha própria vida. Não sei nada sobre eles, nunca mais ouvi um disco deles depois que saí. Nem sei quem está na banda. Tenho outras coisas para fazer.
O que você ouve?
Coisas de quando eu era jovem... Beatles, Led Zeppelin, música velha, sabe? Componho mais do que ouço.
E a música de hoje, não te agrada? Tem muita moda, muita confusão. São tantas variedades, e gente demais tentando fazer música e alcançar o sucesso. É difícil, para mim, entender o que isso quer dizer. Nos anos 70 tudo era mais fácil.
Como eram aqueles tempos?
O Black Sabbath foi meu trampolim para o mundo. Tomávamos muitas drogas e álcool. Experimentei um monte de coisas ótimas pela primeira vez. Parecíamos loucos, era só sexo, drogas e rock'n'roll. Não lembro muito bem, é como se existisse uma névoa. Cheirávamos muita cocaína. Mas agora que estou com mais de 40 tenho os pés no chão. Você se arrepende de algo?
Não posso lamentar nem remediar o que fiz no passado. E também não sei o que vou fazer amanhã. Vivo no presente, porque é tudo o que há. Meu pai me dizia para não fumar, não beber, não me drogar; eu fazia tudo ao contrário. Hoje, me vejo falando exatamente o mesmo aos meus filhos...
O que mudou com a carreira solo?
Antes eu era só um cantor em uma banda, agora posso escolher o caminho que quero seguir. No Black Sabbath, a opinião dos quatro integrantes deveria ter o mesmo peso, mas nem sempre isso acontecia. O Tony Iommi (guitarrista, até hoje o líder) sempre conseguia fazer seu ponto de vista prevalecer.
Você se considera um dos pais do heavy metal?
É bom ser reconhecido, mas não gosto do rótulo heavy metal, é muito restritivo. Prefiro chamar o estilo de "ozzy music", que abrange tudo.
Que tal influenciar toda a nova geração de rock pesado?
Me sinto muito honrado e feliz. Fico contente por eles estarem lá, são eles que vão passar a tocha para a próxima geração. Hoje o rock pesado já está tão estabelecido quanto jazz, folk, country & western.
O que se deve esperar de seu novo álbum, "Ozzmosis", a ser lançado mundialmente no dia 26 de setembro?
É um disco muito interessante. Estou muito orgulhoso dele, realmente soa bem. Mas não vou dizer nada além disso. Surpresa, surpresa!
A magia negra e o diabo são referências em muitas de suas músicas e performances. Você acredita nisso?
Não. Não sou um satanista, só um cara louco. E não me importo com o que pensam de mim. Quando Ozzy sobe no palco, é uma criatura da noite, um cara louco, insano. Há um pouco de Ozzy em todo mundo.
E sobre o processo que sofreu por, supostamente, ter estimulado o suicídio de um garoto com a música "Suicide Solution"?
Também tenho filhos e acho que, se um pai pensa que certa música influencia seu filho de maneira ruim, ele tem todo o direito de desligar o som. Tenho pena daquele garoto, não tive essa intenção. Mas também nunca me preocupei muito com o que aconteceu. Suicídio é uma solução duradoura para um problema imediato.
O que aconteceu no período entre "No Rest for the Wicked" (álbum de 1988) e "No More Tears" (1991)?

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