São Paulo, domingo, 27 de agosto de 1995
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Um cartão bem escrito

DALMO MAGNO DEFENSOR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Tirante os jogos transmitidos ao vivo, o prato esportivo mais saboroso da TV é o "Cartão Verde", da Cultura.
Seu quadro fixo tem o contido jornalista Flávio Prado e os nem tanto José Trajano e Juca Kfouri.
Provendo informação, comentários em geral sensatos e abobrinhas em geral bem colocadas, o trio faz uma descontraída apoteose para a angustiante noite de domingo.
O "Cartão" concorre com a tradicional "Mesa Redonda", da CNT, da qual difere especialmente no tom dos debates, menos passionais e mais bem-humorados.
Não por acaso, Trajano interrompeu uma acalorada discussão sobre arbitragens, dizendo: "Estamos agressivos hoje! Parece até a outra mesa-redonda..."
Mas o "Cartão também tem "saias justas". Certa vez, Telê Santana passou um sabão nos jogadores Zé Elias, do Corinthians, e Gallo, do Santos, acusando-os de jogo desleal.
Telê chegou a ser deselegante na investida antiviolência, mas os âncoras não intervieram, talvez por pensarem -como Brás Cubas- que "as virtudes são como os orçamentos: melhor é o saldo que o déficit".
Há broncas permanentes. À alta cartolagem do futebol, cujos "podres" parece conhecer muito bem, Kfouri dedica muita ironia.
Critica-se, também, a falta de esportividade: durante a Copa do Brasil, causou polêmica o "estilo duro" (?) do Grêmio, que provava aos adversários a máxima inglesa "no pain, no gain" (sem dor, não há vitória).
A batalha de domingo passado entre súcias são-paulinas e palmeirenses, no Pacaembu, revoltou a mesa.
Foi recomendado, aos sensatos, o não-comparecimento aos estádios; falou-se em proibir a entrada de torcedores e, até mesmo, em elevar o preço dos ingressos a nível socialmente seletivo (epa!), para afastar maus elementos.
Um dos pontos fracos. Perguntar ao telespectador se o "Curíntians", como diz Lillian Witte Fibe, será ou não campeão brasileiro é o mesmo que perguntar, simplesmente, quem torce ou não pelo alvinegro.
No domingo passado, Flávio Prado criticou os poucos votos contrários à extinção das torcidas uniformizadas -ué, era pesquisa ou abaixo-assinado?
Os âncoras fazem graça entre si. Flávio Prado comenta em detalhes as 500 Milhas de Michigan, da Indy, em que Scott Pruett chegou "um beicinho de pulga" à frente do segundo colocado.
Surpreso com a erudição automobilística do colega, Trajano diz que ele "parece o Reginaldo Leme".
Em resumo, o "Cartão" é feito para aficionados "cool" - que demandam informação, apreciam polêmicas e até se estressam com resultados adversos, mas não se esquecem que o futebol é, antes de tudo, divertimento.

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