São Paulo, domingo, 27 de agosto de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pastor gourmet ensina a fazer o manjar dos deuses

LÚCIA CRISTINA DE BARROS
DA REVISTA DA FOLHA

Depois de ir à bancarrota duas vezes com restaurantes, ele foi parar por acaso na frente das câmeras -ensinando culinária.
Não só pagou as dívidas -que somavam US$ 70 mil então-, como virou sucesso: no papel de gourmet televisivo e também de autor de livros que ensinam a cozinhar.
Jeff Smith, o pastor protestante norte-americano líder de audiência no canal de TV a cabo GNT com seu programa diário "Frugal Gourmet", passou alguns dias no Brasil para o lançamento de seu primeiro livro traduzido para o português, que leva o mesmo nome do programa.
Um especial de 45 minutos sobre essa visita vai ao ar no dia 2 de setembro, às 18h30, ensinando ainda receitas inéditas e apresentando seu novo chef, Tim Peterson.
Na televisão norte-americana há mais de duas décadas e com dez livros escritos, Smith levou um susto com sua popularidade por aqui.
Autografou nada menos que 600 livros na Bienal no Rio de Janeiro, dia 19. Pensou que a mão ia cair.
Recebeu um potinho de quiabo de uma fã que se lembrou de ele um dia ter comentado na TV que gostaria de experimentar o vegetal.
Apertou tantas mãos que entendeu o ar resignado de Ted Kennedy. Em uma conversa tempos atrás, o senador americano lhe disse: "Sou um Kennedy. Tenho enfrentado isso minha vida inteira".
Jeff Smith morre de rir. Adora as próprias piadas, as histórias variadas de que se tornou depositário em uma vida rodando o mundo.
Sabe que revolucionou a culinária na televisão. Fala sem parar, não segue medidas, preocupa-se em dar o contexto histórico e cultural em que o prato do dia está inserido -afinal de contas, diz ele, "comida é memória; a língua e o nariz lembram muito melhor do que o cérebro".
Acima de tudo, Smith diverte-se. E muito.
Em um restaurante paulista, ele não se cansa de dizer que maravilha é estar em um país onde a comida é tão boa.
Experimenta sardinhas pela primeira vez: "Delicioso!". Mas tem reparos a fazer para a feijoada: promete desenvolver uma versão com menos sal.
Para Seattle (EUA), embarca com ele um saco de farinha de mandioca comprado no Mercado Municipal -Smith adorou comer farofa.
Diz não ter um prato preferido: "É como perguntar qual dos meus dois filhos eu mais amo. Sempre amo aquele com quem discuti por último."
Mas dá algumas pistas: é apaixonado pela cozinha chinesa do norte, comida grega e massa italiana. Mas, acredite, ele não come muito -será por falar tanto?- e também não liga para doces.
Perguntado sobre quem convidaria para um jantar formal, revela suas influências: São Paulo, Bach, Mozart e Nettie Smith -a avó que era um desastre na cozinha (e de quem até hoje se lembra a cada vez que come peru ressecado) mas uma maravilha como ser humano e democrata.
"Anote isso", pede ele: "nós não poderemos nos autodenominar civilizados até o dia em que tivermos mais chefs do que soldados".

Texto Anterior: Evento discute a utopia
Próximo Texto: Novela faz Carla Marins repensar seu relacionamento com a mãe
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.