São Paulo, terça-feira, 29 de agosto de 1995
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General critica 'gente de FHC' por projeto

AZIZ FILHO
DA SUCURSAL DO RIO

O general da reserva João Cosenza, 61, presidente do Clube Militar, disse ontem que ``gente ligada" ao presidente Fernando Henrique Cardoso e aos ministros José Serra (Planejamento) e Sérgio Motta (Comunicações) integram um plano que visa ``ao descrédito das Forças Armadas".
O general criticou o projeto de indenização e disse à Folha ter a concordância dos ministros militares.
Cosenza e os chefes dos clubes Naval e da Aeronáutica publicaram sábado último um ``Manifesto à Nação" acusando os que ocupam ``cargos públicos de elevados níveis" de ``injuriar, inculpar e perseguir antigos opositores".
O porta-voz da Presidência, Sérgio Amaral, disse que o presidente não tem comentários à nota dos clubes militares.
O ministro da Justiça, Nelson Jobim, disse ontem que o governo não vai comentar as declarações feitas pelos militares da reserva.
``Não há absolutamente nenhuma reação no conjunto das Forças Armadas sobre o projeto. Quem representa os militares e as instituições militares são os comandantes militares. Eles aplaudiram o projeto", disse o ministro da Justiça, durante entrevista em que explicou a proposta do governo.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista do general:

Folha - O sr. acha que os parentes dos desaparecidos não devem ser indenizados?
João Cosenza - As indenizações devem ser objeto de estudos individualizados. Não somos contra o amparo legal, o atestado de óbito. Muitos podem ter desaparecido por interesse.
Folha - Se apurar caso a caso, não se chega aos responsáveis pelas mortes?
Cosenza - Não queremos que se reviva o passado, procurar quem fez o quê. O governo deve ter a sensibilidade de fazer a coisa bem-feita.
Folha - A quem os senhores se referem na nota como ocupantes de cargos públicos de elevados níveis? Ao presidente?
Cosenza - É. Todos eles. O José Serra, esse pessoal todo que está lá em cima. O Sérgio Motta. A cúpula do governo estava do outro lado, e não acusamos ninguém.
Folha - Mas são essas pessoas que estão injuriando, acusando, perseguindo os militares?
Cosenza - Não. É gente ligada a eles. Quem levantou tudo isso para fazer uma lista? Foi o chefe do gabinete do ministro da Justiça (José Gregori), que era um homem do outro lado. A gente sabe que o presidente nem quer tratar do assunto. As pressões são grandes.
Folha - Os senhores conversaram com os ministros militares para fazer a nota?
Cosenza - Somos os porta-vozes dos militares. Da ativa também. Temos contato aberto com os ministros militares.
Folha - Eles concordam?
Cosenza - Concordam. Não estamos usando palavras diferentes das deles. Nós mandamos publicar e, no sábado de manhã cedo, falamos com eles. Eu até acordei o chefe do Emfa (Estado-Maior das Forças Armadas) e o ministro do Exército. Somos 150 milhões. Os que estão querendo rever o passado, e até comprometer o processo democrático, não passam de 300 pessoas, 300 famílias.
Folha - Isso pode comprometer o processo democrático?
Cosenza - Depende. Nós nunca iremos aceitar, e isso eu garanto, condenar nenhum de nós.
Folha - O sr. está dizendo que reagiriam como? Armados?
Cosenza - Não sei. Eu não tenho arma, mas não acredito que nossos chefes militares aceitassem.

Colaborou a Sucursal de Brasília

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