São Paulo, quarta-feira, 30 de agosto de 1995
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Familiares acusam governo de manobra

EMANUEL NERI; ABNOR GONDIM
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

ABNOR GONDIM
Familiares de mortos e desaparecidos políticos acusaram ontem o presidente Fernando Henrique Cardoso de fazer manobra de última hora para evitar emendas ao projeto que prevê o reconhecimento legal das mortes do regime militar (1964-1985).
Segundo os familiares, o governo alterou ontem o trâmite de votação no Congresso. O projeto assinado previa tramitação de regime de urgência. Ontem, o governo tentou alterá-lo para urgência-urgentíssima. Nesse regime, o projeto poderia ser votado imediatamente pelo plenário. No de urgência, poderia ser votado em 45 dias. Os familiares dizem que o presidente teme pressões militares.
"O governo está com medo da reação militar e quer votar o projeto sem a discussão da sociedade", disse Suzana Lisboa, da comissão de familiares. "O governo teme o debate e acredita que seu projeto está perfeito", afirmou Amélia Teles, da mesma comissão.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Nilmário Miranda (PT-MG), foi informado sobre a manobra do Planalto. Ele marcou reunião para as 10h de hoje, no gabinete do líder do PSDB, José Aníbal (SP), para tentar retirar o regime de urgência-urgentíssima.
Miranda afirmou que só aceitará o regime caso FHC concorde com duas alterações no projeto. Uma delas tem o objetivo de ampliar o número de mortos beneficiados com a indenização. A outra pretende investigar as circunstâncias em que as mortes ocorreram.
O deputado Luiz Carlos Santos (PMDB-SP), líder do governo da Câmara, disse que a iniciativa de alterar o trâmite do projeto foi dele e não de FHC. ``Pensei que isso fosse agradar os familiares."
O líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP) defendeu ontem a ampliação da lista de 136 e defendeu a inclusão de líderes da luta armada. Ele disse que essa é sua posição após discursar na sessão solene em homenagem aos 16 anos da Lei da Anistia. Aníbal elogiou líderes da oposição armada, como Carlos Marighella, da ALN (Ação Libertadora Nacional).

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