São Paulo, segunda-feira, 4 de setembro de 1995
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Chanceler sul-coreano faz críticas a cotas

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

O chanceler sul-coreano, Gong Ro-Myung, não economizou críticas à imposição pelo Brasil de cotas para a importação de veículos, em audiência na quinta-feira com o próprio presidente Fernando Henrique Cardoso.
"É contra as regras da OMC", reproduziu depois o chanceler, em entrevista a três jornalistas brasileiros, referindo-se à Organização Mundial do Comércio, a entidade que faz o papel de xerife do comércio internacional.
"É discriminatória", continuou Ro-Myung, ao se referir ao fato de que as montadoras já instaladas no país são beneficiadas, na comparação com as empresas que apenas exportam para o Brasil (caso das coreanas).
"A Coréia é um dos países que mais sofrem com a imposição de cotas e a elevação da tarifa de importação de veículos de 32% para 70%", termina o chanceler.
As críticas duras e diretas funcionam, de certa forma, como uma antecipação das dificuldades que o governo brasileiro enfrentará em Genebra (Suíça), sede da OMC, quando as regras para veículos forem julgadas em outubro.
O caso das cotas é, no momento, uma das duas grandes inquietações do governo brasileiro na área internacional. A outra é a Lei de Patentes, que o Congresso demora a aprovar enquanto os EUA ameaçam impor sanções ao Brasil.
FHC e o chanceler interino, Sebastião do Rêgo Barros, secretário-geral do Itamaraty, deram ao chanceler sul-coreano a explicação conhecida.
A elevação de tarifas, seguida da imposição de cotas, decorre de problemas nas contas externas que, disseram a Ro-Myung, "estão melhorando bastante".
O chanceler sul-coreano não ficou satisfeito, conforme a análise que fez posteriormente aos jornalistas brasileiros.
"Quando se tem um problema de balanço de pagamentos, não se pode adotar restrições contra apenas um setor, dizem as regras da OMC", comentou.
Balanço de pagamentos é o resultado das trocas comerciais de um país somado ao desempenho dos serviços, como turismo, fretes, seguros, pagamento da dívida externa etc.
A Coréia do Sul foi um dos países que mais duramente criticaram a decisão brasileira no setor de veículos no âmbito da OMC.
O que é fácil de entender a partir dos números esgrimidos pelo seu chanceler.
Em 1994, a Coréia exportou para o Brasil cerca de 20 mil veículos. No primeiro semestre de 95, as exportações deram um salto e bateram em 35 mil unidades.
As boas perspectivas abertas no primeiro período do ano foram, no entanto, cortadas pela imposição das cotas. Com elas, os coreanos queixam-se de que só poderão colocar no Brasil, no segundo semestre, a metade dos 35 mil veículos vendidos até junho.
"É um grande retrocesso para nós", lamenta Ro-Myung.
Ainda assim, o chanceler, que já foi embaixador no Brasil (83/86), não acena com retaliação alguma. "Esperamos que as cotas sejam eliminadas tão depressa quanto possível", diz ele.
Ro-Myung supõe que será exatamente essa a proposta que a OMC adotará em outubro, quando o seu Comitê de Balanço de Pagamentos julgará o caso brasileiro.
A decisão do comitê não é impositiva. Ele apenas faz uma recomendação ao plenário da OMC. Mas o próprio governo brasileiro admite que uma recomendação do comitê tem enorme peso político.
Significará um desagradável puxão de orelhas no momento em que o governo se empenha ao máximo em cultivar a boa vontade da comunidade internacional.

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