São Paulo, quarta-feira, 6 de setembro de 1995
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Governo só venderá imóveis com garantias

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O governador de São Paulo, Mário Covas (PSDB), só vai autorizar a venda de imóveis estaduais para pagar o Banespa se, antes, tiver a garantia de que o Banco Central apoiará a tomada, pelo governo paulista, de um empréstimo externo de US$ 6,5 bilhões.
Esse dinheiro também seria repassado ao Banespa, que teria assim suas finanças equilibradas.
O Banespa, banco estadual paulista, está sob intervenção do Banco Central desde dezembro de 1994.
Mas Covas quer ainda uma segunda garantia: a de que, uma vez restabelecido seu equilíbrio financeiro, o Banespa voltará ao controle do governo paulista.
O governador espera uma manifestação inequívoca do BC, positiva ou negativa. Se negativa, Covas entenderá que a responsabilidade pelo caso Banespa ficará inteiramente com o BC.
É quase um ultimato porque a situação do Banespa não se resolve se o governo paulista não pagar os R$ 13 bilhões que lhe deve.
Ao dizer que o problema é só do BC, Covas poderia estaria indicando que não se responsabiliza mais pela dívida.
É a pergunta que se faz no BC, onde o problema é visto de modo diferente. Para o BC, a idéia do governo paulista de vender imóveis para pagar parte da dívida com o Banespa é um excelente início de saneamento do banco.
Conforme o presidente do BC, Gustavo Loyola, disse em carta a Covas, essa operação poderia se iniciada imediatamente. Mais do que isso, o BC não avança. Especialmente, não oferece a garantia de que apoiará o empréstimo externo de US$ 6,5 bilhões.
A carta de Loyola não faz referência a esse ponto. Por isso, Covas pediu que seu secretário da Fazenda, Yoshiaki Nakano, tomasse esclarecimentos.
Loyola disse, então, que só apoia o empréstimo, inclusive com aval do governo federal, se houver o compromisso de que o Banespa será privatizado.
Covas considerou isso uma mudança nos termos da conversa que ele próprio tivera com Loyola e outros diretores do BC, há duas semanas. Na ocasião, o governador observou que nenhuma negociação prosperaria se fosse colocada a exigência de privatização.
Segundo assessores do governador que participaram da conversa, a exigência não foi colocada. De seu lado, diretores do BC admitem que a exigência não foi formalmente posta, mas sugerida quando manifestaram a opinião de que a privatização continuava sendo a melhor solução.
Em resumo, Covas quer o banco de volta, com venda de imóveis e garantia do governo federal.
Para o BC, se o governo paulista quer o banco de volta, deve arrumar sozinho os R$ 13 bilhões. Se não tem como, que aceite a privatização.
No impasse, o BC pode federalizar o Banespa e privatizá-lo. Mas Covas pode tirar do Banespa as contas do governo paulista, um movimento mensal de R$ 3 bilhões, principal trunfo do banco.

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